Caminhada na Serra da Pescaria e S. Gião

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Esteve linda a manhã do último domingo de Janeiro. Caiu geada, mas o sol brilhou logo pela manhã e rapidamente aqueceu toda a paisagem – e se ela era bonita na Serra da Pescaria, onde 92 valentes pessoas e um cão abandonaram a cama quentinha e juntaram-se para caminhar e apreciar as belezas que o tempo, limpo e luminoso, deixava ver até onde os olhos conseguiam.
Percorreu-se a cumeada da Serra da Pescaria, por um velho caminho na vertente este, em direção a norte. A paisagem do troço do vale tifónico de Caldas, aqui, onde antes existiu a lagoa da Pederneira, era fantástica, com uma bruma transparente que se estendia como véu diáfano ao longo do vale, alimentado pelo vapor das chaminés da fábrica de aglomerados de madeira, em Famalicão.
Voltámos depois para a vertente oeste, com a paisagem soberba do mar azul a perder de vista e o calcário bege do promontório da Nazaré, iluminado pelo sol nascente, que também exaltava de branco o casario da cidade. Iniciámos a descida para o velho casario da Serra da Pescaria, agora já muito reformado com algumas casas grandes e as urbanizações que crescem e se sobrepõem, parecendo querer esmagar-se a si próprias… em contraste absoluto com o velho aglomerado.Recebidos na bela casa de Alicia e Roland Filarski, casal de artistas holandeses que escolheram o nosso país e a Serra da Pescaria para viver, saboreámos chá, café e bolinhos e pudemos abastecer-nos com uma garrafinha de água e uma peça de fruta para o caminho.
E o caminho descia ali mesmo, à porta dos Filarski, para o que resta da Fonte do Povo, antigo abastecimento de água à povoação, onde, fugindo à lama, passámos depressinha para o outro lado da vertente da colina, onde passámos em túneis de vegetação fresca, até se abrir de novo a paisagem soberba do mar.
E por ali fomos, descendo pelos caminhos escavados pela chuva de outras estações, até descermos ao vale verde da Quinta de S. Gião, entalado entre as dunas e a serra, composto por parcelas verdes de couves em diferentes fases de crescimento, à volta do ainda imponente casario com palmeira centenária, embora abandonado e em degradação.
Alguns metros ao lado, um quase cubo, metálico, estranho e alienígena, esconde e abriga uma das igrejas mais velhas de Portugal e da península Ibérica: a Igreja Visigótica de S. Gião.
Construída segundo as regras ditadas pelo IV Concílio de Trento, no século VII, manteve-se até hoje depois do seu abandono pelos religiosos, porque recebeu uma nova função prática, que obrigava à sua manutenção: foi celeiro e curral de animais da Quinta de S. Gião, até meados do século XX, quando Eduíno Borges Garcia a identificou. (…)
O local é excelente e permitiria soluções turísticas interessantes, relacionadas com turismo rural, com vertente agrícola, pois os solos da quinta são muito ricos e rentável a sua exploração. Seja qual for a solução, todos ansiamos pelo dia em que possamos, livremente, visitar a Igreja Visigótica de S. Gião, livre de amarras e coberturas estranhas, de pé, pelo seu pé.
Continuámos, então, em direção a sul, ora bordejando os campos cultivados, lavrados ou em pousio, cheios das flores amarelas das azedas, que já nos anunciam a primavera, ora pisando o caminho de areia das dunas que protegem este pequeno paraíso agrícola, até que, acabado o vale da quinta, começámos a subir os caminhos de pedra e argila que nos haviam de levar ao alto do moinho, novamente com vistas soberbas para o mar e a Nazaré.
Chegados ao fim do percurso circular, fomos todos procurar o almoço no restaurante Raposa (…)
Para o mês que vem há mais, na manhã do último domingo, como é habitual, desta vez em Salir de Matos.

Cipriano Simão