Nas minhas andanças pela formação profissional no sector alimentar tive a honra e o enorme prazer de trabalhar com verdadeiros sábios. Socorro-me, hoje, do saber de Albino André, que foi secretário-geral da AHRESP, observador privilegiado do sector, com obra publicada e entre ela a “Alimentação em Portugal”.
Às lojas, especialmente criadas, para nelas serem deixados e alimentados com “pasto”, os animais utilizados no transporte dos seus donos, foi dado o nome de “Casas de Pasto”, e assim passaram a ser conhecidas.
A clientela que, nessas Casas, passou a deixar os animais que lhes serviram no transporte, formulou o pedido de poderem ser confeccionadas refeições simples. As referidas “Casas de Pasto” passaram a ter uma dupla função: fornecer o “pasto” aos animais, utilizados no transporte dos seus donos e, também, pequenas refeições aos transportados, e as ementas foram sendo alargadas com outros produtos, além do peixe frito e do chouriço assado.
A designação de “Casas de Pasto” é uma denominação vernácula, que remonta aos primórdios da nacionalidade portuguesa, ao reinado de D. Sancho I, e tem sido mantida até aos nossos dias.
O Prof. Vitorino Nemésio, em 1972, no Estoril, ao falar dos restaurantes portugueses, para os seus representantes em Congresso, relatou: “quando há alguns anos consultava os arquivos da Torre do Tombo, deparara, por acaso, com umas curiosas referências às chamadas “Casas de Pasto”, reportadas ao tempo do reinado de D. Sancho I, as quais serviam por preços módicos, refeições ao público”.
Daí o seu conselho para ser mantida essa denominação tão antiga.
Foram de alguns milhares as “Casas de Pasto” abertas ao público, em Portugal continental, Açores e Madeira e também no mundo que os portugueses criaram nas suas, então, colónias do Ultramar, desde a Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, índia (Goa, Damão e Diu), Macau e Timor (Leste).
As “Casas de Pasto” têm sido bons restaurantes, populares, onde se come bem e barato. O “pasto”, donde derivou o seu nome, encontra-se, hoje, nas bombas de gasolina: os animais foram substituídos pelos automóveis…
Resistem, ainda, por todo o país, do Minho ao Algarve, alguns milhares desses estabelecimentos, que continuam a manter com destaque, nas fachadas, a antiga denominação de “Casas de Pasto”, porque continuam a exercer a mesma actividade de servir refeições à sua clientela.
De resto, nos dicionários da língua portuguesa será de interesse verificar que a palavra restaurante é definida “casa de pasto categorizada”…
As “Casas de Pasto”, tendo desempenhado, durante vários séculos, acção destinada a resolver um problema do transporte utilizado desde o século XII, em paralelo com a resolução dum outro problema, o da alimentação humana, resistem, hoje, abertas ao público e a exercer actividade, paralela à praticada nos estabelecimentos, que passaram a ser classificados “restaurantes”, e posteriormente criados!
João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com
Corrigenda: Leitor amável fez o favor de me corrigir quanto aos tipos de bacalhau . Em Portugal as categorias são cinco (miúdo, corrente, crescido, graúdo e especial).Aqui fica o agradecimento.