No ano em que celebra o 150º aniversário da sua fundação, o Montepio Rainha D. Leonor – Associação de Socorros Mútuos, estabeleceu um programa comemorativo no qual prevalece o desígnio de honrar o seu passado, lembrando os Cidadãos que desde a longínqua data de 1860, interpretaram com denodo, os objectivos de uma Associação que foi criada com intenção humanitária, fazendo apelo ao altruísmo, à solidariedade, à fraternidade, valores que enobrecem as pessoas que, individual ou colectivamente, se dedicam ao seu cumprimento com boa fé, com inteira verdade.
A história do Montepio é rica de acontecimentos, os primeiros dos quais remontam à sua própria origem. No ano 2000 foi publicado o livro da autoria do historiador Dr. Rui Antunes Correia, editado pela Associação Património Histórico na Colecção PH – Estudos e Documentos, livro que resultou do seu minucioso trabalho de investigação realizado nos arquivos do Monte Pio Caldense, no período que decorreu entre 1860-1890. Com a devida vénia, permito-me transcrever um excerto do discurso proferido pelo Presidente da Assembleia Geral Dr. Eduardo Augusto Andrada Mendoça, na sessão solene realizada no dia 30 de Abril de 1862, na Sala da Convalescença do Hospital Rainha D. Leonor, a fim de celebrar a aprovação dos Estatutos: “Os Caldenses celebram hoje a inauguração do seu Monte Pio. Festejemos com prazer este dia que é de Verdadeira gloria e triunfo para os espíritos verdadeiramente liberais e progressistas; este dia em que vemos começar a brilhar a aurora de um futuro mais próspero e esperançoso para os opperarios infelizes e para os amigos da humanidade; este dia finalmente que deveria ocupar uma das páginas mais brilhantes da Historia da Villa das Caldas se alguem alguma vez se lembrasse de escrevela”.
Cumpriram-se os dois bons presságios, dado que, por um lado, parte da sua história já foi escrita e o autor, o Dr. Rui Correia, ao terminar a sua Nota Preambular, refere que “Conhecer a sua história é conhecer parte da melhor história das Caldas da Rainha. Não apenas por se saber de onde vem e como nasceu, mas porque a história do Monte Pio Caldense é também a história da nobreza nas Caldas da Rainha. A plebeia nobreza de apenas nos querermos bem uns aos outros”. “Uns aos Outros o Monte Pio Caldense 1860-1890” é o título deste precioso livro histórico; por outro lado, mesmo quando, eventualmente, a nobreza de querer bem uns aos outros não pôde ser alcançada, nunca o Montepio deixou de fazer a pedagogia de bem-querer, conforme prognosticou Andrada Mendoça.
Foi este o legado que inspirou a vida do Montepio ao longo de um século e meio da sua existência. Este o seu património imaterial que foi cultivado por sucessivas gerações de Cidadãos que, de forma dinâmica, responsável, se identificaram com os preceitos institucionais, agindo ao encontro das transformações surgidas ao longo do tempo da sua evolução.
O Montepio Rainha D. Leonor honra os pergaminhos que foram conferidos às Caldas da Rainha pela sua Fundadora, chegando aos nossos dias com o atributo acrescido de Instituição Particular de Solidariedade Social, prestadora de serviços que, de acordo com as competências que lhe são reconhecidas, correspondem aos exigentes padrões de diferenciação, tanto no domínio clínico, como no social.
O seu Quadro de Honra identifica com justeza muitos dos Cidadãos que propiciaram a admirável vitalidade do Montepio de hoje, alcançada dentro da maior coerência, em obediência ao espírito mutualista que motivou os seus fundadores e lhes permitiu antecipar no tempo a vigência da primeira lei mutualista promulgada em Portugal, decorria o ano de 1891. De facto, o Montepio nunca descurou a observância da sua razão de existir, cumprindo as normas da vida associativa com pleno respeito pelos legítimos direitos dos seus Associados, cujos critérios de admissão, já na vigência do seu actual Conselho de Administração, foram tornados extensivos a pessoas de todos os grupos etários, sejam ou não residentes no Concelho das Caldas da Rainha. São mais de oito mil o número actual dos seus Sócios. Esta fidelidade aos princípios coloca a Associação de Socorros Mútuos no lugar relevante que ocupa na União das Mutualidades Portuguesas
Os mais velhos de nós, caldenses, aqui nascidos ou radicados, bem cedo se deram conta da importância do Montepio na vida da comunidade, não apenas no aspecto assistencial mas através de actividades de natureza recreativa, cultural e até no domínio da educação física. Mas foi a partir da década de 40 que o Montepio passou a dedicar-se mais estritamente à missão de assistência clínica.
Na época, a criação dos Serviços de Radiologia e de Cirurgia, constituiu o fulcro de um desenvolvimento irreversível, que traçou um renovado percurso, rumo à actualidade.
O Montepio Rainha D. Leonor foi, nas Caldas da Rainha, a Instituição pioneira na prestação de serviços no domínio da Radiologia, por virtude da oferta do respectivo equipamento, efectuada no ano de 1943, por um núcleo de Sócios apaixonados pelo Montepio. O Doutor João Vieira Pereira foi o responsável do Serviço assim criado, assegurando-lhe todo o seu apoio, numa disponibilidade permanente, confirmativa de que as competências por si adquiridas estavam efectivamente ao serviço da Instituição.
Avaliamos à distância, que foi a generosidade de alguns Sócios conjugada com a acção compreensiva e constante de um Médico, que permitiram fundar, no Montepio, uma unidade de Radiodiagnóstico que, com o decorrer dos anos, evoluiu para um serviço de Imagiologia de ponta, mercê de uma adequada e progressiva modernização dos seus equipamentos e da imprescindível intervenção de recursos humanos técnica e profissionalmente qualificados.
A ligação do Doutor Ernesto Moreira ao Montepio Rainha D. Leonor aconteceu ainda antes de 1947, ano em que fixou a sua residência nas Caldas da Rainha. O Montepio teve a primazia de poder contar com o elevado profissionalismo do Doutor Ernesto Moreira que, desde a primeira hora, colocou ao seu serviço todo o seu saber, a sua previsão e constante diligência, conferindo a inteira dignidade ao Serviço de Cirurgia que criou, dando assim um significativo impulso para a diferenciação dos cuidados de Saúde prestados pela instituição.
A primeira equipa cirúrgica que se constituiu no Montepio, chefiada pelo cirurgião Dr. Ernesto Moreira, integrava o Dr. João Vieira Pereira como anestesista e o Dr. Mário de Azevedo e Castro na qualidade de ajudante de cirurgia. Em Dezembro de 1947 tive o “privilégio”de ser mais um dos operados por esta equipa, na qual, mais tarde, se integrou o Dr. Jovalino Vieira Lino em substituição do Dr. Vieira Pereira.
A notoriedade do trabalho realizado por estes Médicos, determinou que fossem distinguidos com a Medalha de Prata de Gratidão e Mérito, conferida pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha em Sessão Solene realizada e não por acaso, no dia 11 de Março de 1981, data do 121º aniversário do Montepio.
O Doutor Ernesto Moreira foi o maior benemérito do Montepio durante quase seis décadas. A Casa de Saúde do Montepio, o Lar de Idosos que tem o seu nome, lembram o papel relevante, insubstituível, que exerceu na concepção e concretização das acções cuja validade alicerçou o prestígio da Instituição.
Os nomes dos Doutores Ernesto Moreira e João Vieira Pereira, são aqui evocados com referência às últimas décadas, com o intuito de louvor à sua integridade deontológica, ao seu próprio código de ética que, moldando-lhe o carácter, suscitou em ambos a vontade de participar no progresso do Montepio, dedicando-lhe uma colaboração profissional entusiástica, competente e sempre afectuosa. A Homenagem institucional de reconhecimento, está justamente consagrada, de forma perene.
A assunção de maiores responsabilidades e o acompanhamento dos incessantes avanços que se verificam no domínio da Saúde, evidenciaram a vontade de promover as inovações necessárias à prestação de melhores e mais diversificados serviços, cuja concretização lançou outros tantos desafios que foram sendo vencidos graças a um esforço contínuo de adaptação às novas exigências, que impuseram, para além da ampliação da estrutura edificada, alterações do modo organizativo, com melhoria progressiva, qualitativa e quantitativa, dos recursos humanos dedicados à assistência, completada posteriormente, pela reorganização da gestão administrativa
A concretização de tão ambiciosos quanto legítimos objectivos, foi alcançada, mais uma vez, mercê da grande perseverança dos seus servidores que, no domínio das suas próprias responsabilidades, intervieram de forma concertada e de harmonia com os valores que sempre nortearam a vida institucional.
A celebração solene do Dia Nacional do Mutualismo – 2010, que irá realizar-se nas Caldas da Rainha por iniciativa da União das Mutualidades Portuguesas, representa o honroso acto de Homenagem ao Montepio Rainha D. Leonor – Associação de Socorros Mútuos, no 150º Ano do seu Aniversário.
O Montepio Rainha D. Leonor encontra-se no auge do seu desenvolvimento, facto inquestionável que augura a certeza de que o seu historial será honrado. A permanência do espírito empreendedor, ao garantir a vocação, dará continuidade à inovação, ao progresso, confirmando o prestígio institucional tão justamente conquistado.
Neste Ano Comemorativo, pleno de simbolismo, enaltecer a Obra e os seus Benfeitores constitui um dever de cidadania que procurei cumprir aqui com a mais sincera admiração.