Comer a bordo

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Vamos lá ao prato principal, o da nossa realidade.
Mas antecipo que em ocasião propícia, feitas as investigações à séria, talvez me abalance a referir exemplos de refeições cozinhadas e servidas nos comboios e que deixaram marca gastronómica, quiçá nos nossos vizinhos Transcantábrico e Al Andaluz, da Renfe.
Com partida e chegada a Santa Apolónia, em Lisboa, existe o Lusitânia Comboio Hotel com destino a Madrid.
A carruagem bar, diz a CP, dispõe de serviço de jantar e pequeno almoço e de um diversificado sortido de bebidas, sandes e snacks.
Ao que sei, as refeições são pré-cozinhadas, tal como no Alfa.
Sobre o Sud Expresso, também com partida e chegada a Santa Apolónia li, há tempos, uma reportagem do Correio da Manhã, com importantes dados sobre a ocupação do mesmo, matéria que extravasa o objectivo presente deste escriba.
Desde 1887 que sai todos os dias de Lisboa rumo a Paris. É um dos comboios mais antigos do mundo: Antigo e obsoleto. O ‘Sud’, parou nos anos 70. São dessa década as carruagens (cama, 2.ª classe e restaurante).
A carruagem-restaurante, ao tempo da notícia, era explorada pela Minc-Barp, empresa também responsável pelo vagão-cama e que parece ser o único com padrões de comodidade dignos desse nome. Naquela altura o jantar no “Restaurante” custava 20 euros. Na opinião do responsável da empresa, citado na notícia, “É o único comboio português, e se não me engano da Europa, onde as refeições são cozinhadas no próprio comboio”. “Optei pelo bife e estava bom. Tal como a sopa de legumes”. Além do bife era possível escolher pescada à portuguesa e a refeição terminava com ananás “au Porto”, ou pudim de gema de ovos e café. O cozinheiro, também citado no artigo, realçava: “nunca me queimei nem entornei fosse o que fosse em 23 anos de profissão, sempre nos comboios. Já tive de passar por algumas travagens bruscas, mas o material portou-se bem”, afirmou enquanto apontava para o fogão, onde estavam três panelas a fumegar.
Nas minhas andanças gastronómicas desloquei-me com frequência a San Sebastian. Uma vez experimentei o “Sud”. Confesso que não dei pela comodidade da carruagem-cama, referida na notícia, pois lembro-me que a noite passei-a deitado, mas bem abanado… a não ser que fosse para me embalar! Das refeições não guardo memória.
As buscas, muito pela rama, para a elaboração do presente artigo, e a falta de divulgação pelas entidades envolvidas, não me permitem opinar sobre a ementa de que dei notícia, já que bife é uma realidade muito vaga e pescada à portuguesa tem mais de uma forma de confecção. Como curiosidade lembro que ananás com Porto é cozinha de sala, de confecção na presença do cliente, mas que no caso duvido que assim tenha sido.
Para deixar o leitor com água na boca, aqui fica a imagem bem apelativa de uma iguaria servida no Oriente Express! É bem mais do que um simples prato principal.

João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com

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