A PERCEÇÃO NA POLÍTICA
Para alguém que, como eu, teve a sorte de presidir a uma União de Freguesias nas Caldas da Rainha onde, durante esse mandato, foi construído um novo centro de saúde, é desconcertante ver que, agora, a hipótese que está em cima da mesa é fechar o nosso hospital.
Esteve bem o anterior executivo camarário em construir o Centro de Saúde, como também esteve bem o atual executivo camarário ao financiar com mais de 700 mil euros as obras na maternidade do Hospital das Caldas da Rainha. O que não posso deixar de assinalar, é o desplante dum Ministro da Saúde que, depois de receber dinheiro duma autarquia para fazer obras num hospital que deveriam ser da responsabilidade do Governo, venha a esse mesmo município anunciar que, em pouco tempo, tem a intenção de fechar esse hospital. Como se diz em bom português: é preciso ter lata!
São sobejamente conhecidos os argumentos que demonstram que o Hospital do Oeste, a ser só um, deveria ser construído à beira da cidade das Caldas da Rainha e não ao lado da vila do Bombarral.
Não querendo aqui repetir esses argumentos, escrevo este pequeno texto apenas para lembrar todos os caldenses, dos mais altos responsáveis autárquicos aos cidadãos anónimos que, como eu, não viram a cara à luta, que neste nosso grito de revolta a forma como comunicamos é tão ou mais importante do que a bondade dos argumentos que possamos ter. É que estamos a falar duma decisão política e na política a perceção conta… e muito.
Deixo três alertas sobre erros de perceção que podem estar a ocorrer neste processo:
PRIMEIRO – Nada nos move contra o Bombarral.
Quem está a favor deste anúncio do Ministro da Saúde, tentará desvirtuar e distorcer os argumentos que os caldenses utilizarem. É preciso deixar claro como a água que nós, caldenses, não temos nada contra o Bombarral. Eu não conheço nenhum caldense que não goste do Bombarral e que não tenha amigos bombarralenses. A nossa luta é, em primeiro lugar, para que a cidade das Caldas da Rainha não deixe de ter um hospital. Não sendo, como diz o Governo, possível ou desejável manter os hospitais atuais do Oeste (Caldas da Rainha, Torres Vedras e Peniche), o que nós não aceitamos é que sejam as Caldas da Rainha, que é a maior cidade do Oeste (segundo os CENSOS de 2021) e a capital desta Região (onde se situa a sede da Comunidade Intermunicipal do Oeste) a perder o seu hospital.
Nada contra o Bombarral, mas não pode ser a cidade mais populosa do Oeste a ficar sem hospital. Temos de ser, então, cuidadosos para que não fique sequer uma réstia de dúvida que não se trata de egoísmo por parte das Caldas, nem nada contra o Bombarral.
SEGUNDO – É uma derrota para as Caldas da Rainha e para Torres Vedras.
A revolta caldense e, principalmente, a ausência de protestos de Torres Vedras tem levado à ideia (errada) que se vai instalando no país de que este anúncio foi uma derrota para as Caldas da Rainha e uma vitória para Torres Vedras e para o Bombarral. Como é que pode ser uma vitória para Torres Vedras se o que o Ministro anunciou foi, na prática, também o fecho do Hospital de Torres Vedras? Esta cidade do Oeste Sul fica tão longe ou até mais longe do que as Caldas em relação ao local para onde foi anunciada a construção do novo hospital. Porque é que os torrienses não reclamam?
Corre por aí a suspeita de que os autarcas de Torres Vedras não reclamam por tudo isto ser uma jogada dentro dum partido político, que está no poder em Torres, no Bombarral e no Governo de Portugal. Já as pessoas de Torres não reclamam porque ninguém lhes está a dizer a verdade, ou seja, que o seu hospital também vai fechar.
Para além disso, esta ausência de protesto tem um efeito perverso para as Caldas. Passa a ideia de que as Caldas estão a definhar, a perder tudo e em Torres não se passa nada… que está tudo bem.
Quando uma família se quiser mudar para uma das grandes cidades do Oeste, e perante estas notícias, qual das cidades irá escolher? Se um empresário quiser investir numa das cidades, perante este contexto, em que cidade ele irá investir? É este efeito perverso que temos de combater e para isso só há duas hipóteses: ou deixamos de protestar também nas Caldas, o que não é uma opção pelo motivo que veremos já a seguir, ou lembramos todos os portugueses que aquilo que o Ministro da Saúde disse foi que ia encerrar os hospitais das Caldas e também o de Torres Vedras. Sendo as Caldas da Rainha a capital do Oeste, temos a responsabilidade de não olharmos só para o interesse da nossa cidade, mas para o bem comum de todos os oestinos e se os autarcas de Torres Vedras estiverem mais interessados em defender jogadas políticas do que os interesses dos torrienses, então seremos nós, caldenses, a defender também os interesses da população de Torres Vedras que, provavelmente, ainda não perceberam que a decisão anunciada pelo Ministro, e que os seus autarcas agora aplaudem, significa perderem o seu hospital.
Temos então de dizer que somos contra o encerramento dos hospitais de Caldas e de Torres.
TERCEIRO – Se esta decisão fosse concretizada o Partido Socialista seria fortemente castigado no Oeste.
Sabemos que ainda não houve uma decisão formal. Tratou-se, para já, apenas de um anúncio. E sabemos todos como este Governo trabalha: anuncia as decisões e espera para ver as reações. Se não for muito mau, avança. Se a reação for forte, recua. É isto que temos de fazer. Eu tenho muito orgulho de grandes e destacados socialistas caldenses que já vieram a público dizer que esta é maior traição que o Partido Socialista nacional está a fazer aos caldenses e aos oestinos. São caldenses de fibra, que colocam o interesse da população à frente dos interesses partidários. Se os dirigentes socialistas de Torres preferirem o partido aos interesses da população, será de lamentar. Ao contrário dos dirigentes, muitos socialistas de base torrienses não sabem ainda da vontade do Governo em fechar o seu hospital.
Temos todos de demonstrar agora a este governo que, se não tomar a decisão correta, serão fortemente castigados nas próximas eleições por mais de 200 mil pessoas que vivem em Torres e nas Caldas e nos municípios circundantes (também por isto é que é importante associarmo-nos à indignação pelo encerramento do hospital de Torres Vedras). Mais de 200 mil votos no Oeste é algo que assusta um partido de poder como é o Partido Socialista e este Governo não pode ficar indiferente a isso. Se a ameaça de castigo eleitoral for real, conseguiremos reverter esta decisão errada, e isso só depende de nós.
Quer isto dizer que somos contra a existência de um hospital novo no Oeste? Claro que não!
Eu defendo um grande hospital novo, um hospital de fim de linha para o Oeste Centro e Norte. Da Lourinhã e Cadaval a Alcobaça, de Peniche a Rio Maior, um grande hospital nas Caldas da Rainha (Caldas / Óbidos), serviria toda esta população. O Oeste Sul, que está cada vez mais a ser envolvido pela área metropolitana de Lisboa, deve ter, na minha opinião, um serviço hospitalar de complementaridade. Deve manter-se um hospital em Torres Vedras, devidamente reabilitado, que se articulasse com o de Loures e o de Vila Franca para servirem, em complementaridade, a população do norte da área metropolitana de Lisboa e do sul do Oeste.
Esta luta não será fácil, mas se o fosse, não seria para nós, oestinos!
Jorge Varela