A coragem da moderação

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Prevê-se que as próximas legislativas aproximem Portugal a uma boa parte da Europa (e do mundo) num indicador relativamente ao qual preferiríamos continuar no fundo da tabela: O crescimento da extrema- direita. As democracias iliberais da Hungria, da Polónia e agora da Itália (e previsivelmente da Holanda) entraram na normalidade hodierna. A normalização da extrema-direita e do populismo. Em junho haverá eleições para o parlamento europeu e teme-se que o grupo parlamentar ID (Identidade e Democracia),
que agrega os partidos europeus da extrema-direita populista, possa crescer exponencialmente (sublinhando que passou de 36 eurodeputados, em 2014, para 73 em 2019). A este cenário juntemos as recentes eleições na Argentina, o ressurgimento de D. Trump nos EUA, o Brexit, a ameaça Le Pen em França, entre outras ocorrências na última década. As raízes do fascismo estão longe de serem extintas, conforme alertou Hannah Arendt. A eleição do novo secretário do Partido Socialista vem a este propósito e é, neste contexto, de crucial importância. O carisma, a coragem, a autoconfiança, a boa imagem e o bom marketing, não são em si virtudes. São caraterísticas que quando esvaziadas de ética valem pouco, ou pior, são uma perigosa mistura para um sistema tão delicado quanto é a
democracia. Os tempos são de radicalizações, de vociferações várias, as pessoas fecham-se na certeza das suas ideias como se fossem clubes de futebol, sem tolerância, nem capacidade de ouvir o outro, presas nas respetivas redes sociais que enclausuram em bolhas de pensamento acrítico. Tempos destes exigem outro tipo de coragem, muita e inusitada: A coragem de ser moderado. De se assumir moderado, de ser apenas inflexível na defesa da democracia, da verdade e dos valores que devem reger qualquer servidor público, ao serviço do outro, da coerência e da transparência. A política não é uma carreira, muito menos a concretização de um destino, à boa maneira messiânica e providencial,
a política é, deveria ser, uma missão. Só isto poderá travar a voragem populista da extrema-direita: a ponderação contra a impulsividade; a urbanidade contra o insulto; a tolerância contra as fobias variadas; a moderação contra o extremismo. José Luís Carneiro incorpora estas qualidades tão pouco valorizadas por uma comunicação social que procura o imediatismo e o sensacionalismo. Mas o país exige mudança, sob pena de ser infetado pelo mesmo vírus que assola o mundo. O Partido Socialista exige igualmente mudança, contra os interesses instalados, contra o status quo que promove a indolência acomodada ao poder e o serviço do interesse individual em detrimento do interesse coletivo. Esperemos que assim seja, a bem do PS e a bem do país.

José Ribeiro
(Presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista 2018-2020)

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