Covid e os profissionais de saúde

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Gazeta das Caldas
Cristina Teotónio
médica

Caros amigos, espero que me perdoem o sectarismo, mas sinto necessidade de vos escrever sobre os “meus” pares…
Têm sido integrados no grupo de “heróis da linha da frente”, alvo de sinceras e variadas homenagens de agradecimento, que em verdade motivam e dão animo a continuar a luta, mas provavelmente uma grande parte da população não imagina o esforço que lhes tem sido exigido.
Urgiu reorganizar serviços, duplicar urgências, realocar profissionais…
Ao acréscimo do volume de trabalho associou-se o receio do desconhecido. Uma patologia nova acerca da qual o conhecimento era escasso… Como diagnosticar, como tratar? Como proteger os outros utentes e os profissionais? A escassez inicial de equipamentos de proteção, a falta de testes, de condições de isolamento. A dificuldade de articulação de vagas de cuidados intensivos. Colegas infetados, internados… Testes sucessivos por contactos inesperados, porque por muito que se tente estabelecer circuitos isolados, quando menos esperamos lá aparece mais um “positivo” numa zona supostamente “limpa”. O treino para o cumprimento minucioso dos cuidados de proteção… Os surtos nos serviços… O receio de nos infetarmos, de “levar para casa” o vírus e contaminar os “nossos”, sobretudo os mais idosos ou com doenças crónicas.

Ao acréscimo do volume de trabalho associou-se o receio do desconhecido

E a noção de que isto não acalma; os números continuam a subir, incluindo de óbitos. Apesar do aumento sucessivo de camas alocadas para internamento de doentes covid estas continuam escassas; surtos em serviços de internamento com necessidade de “encerramento” dos mesmos; profissionais infetados e que tanta falta fazem nos serviços… E os doentes “não Covid” a precisarem de cuidados…
Não acho que sejamos heróis; afinal esta é a nossa função, mas acreditem que todos têm feito um esforço “heroico”: os que trabalham na linha da frente, os que asseguram os restantes serviços para que seja possível deslocar pessoal para as áreas dedicadas, os que tentam organizar e inventar novos espaços ou adquirir equipamentos com stocks em rutura, os que “tentam” fazer o controle da pandemia, identificando clusters e cadeias de transmissão… Horas extra, turnos demasiado sobrecarregados, férias canceladas, “feriados” não gozados… Mas sinto em todos, apesar do cansaço, o sentido de responsabilidade, para continuar a dar sempre o seu melhor…
Para todos eles, um ENORME OBRIGADO!
E agora que se aproxima o Natal, um Natal que obrigatoriamente tem de ser diferente, imaginam a necessidade que todos teriam de o comemorar com saúde e paz no seio das suas famílias?!
Por isso insisto, o melhor reconhecimento será o reforço individual das medidas de proteção. Não facilitemos, a esperada vacina ainda demorará muito a modificar os números…
FELIZ NATAL a todos e que 2021 seja bem melhor…

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