Crónica de uma morte anunciada

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O destino do Hospital Termal está em jogo. O seu futuro é incerto e os riscos pressentidos são numerosos. Sobre isto não convirá ignorar a realidade e muito menos disfarçar com optimismos desmedidos e infundados. A complexidade da situação actual tem raízes que mergulham fundo – desde há décadas que a tutela do Estado foi dando crescentes sinais de uma vontade de descomprometimento, a qual acabou por alcançar as raias da negligência danosa. Este não foi um resultado acidental mas sim porfiadamente procurado e por fim atingido, com agravo pleno, pela confluência desastrosa entre a subserviência do executivo municipal, incapaz de uma posição reivindicativa firme, e o papel nocivo, em absoluto, de premeditação, incúria e laxismo desempenhado, num arrogante exercício do poder, pelo ex-administrador (até há pouco em funções) cuja má-fé deliberada o levou, por exemplo, à escusa de pagamento das análises regulares às águas termais e à retirada para parte incerta de mobiliário do Hospital Termal (camas articuladas, cadeirões e, segundo parece, até de mesas de inalação).
A visita, recentemente efectuada às instalações do Hospital Termal, Balneário Novo e Pavilhões do Parque, por um conjunto de vereadores e membros da Assembleia Municipal veio confirmar tudo aquilo que já se sabia: os edifícios estão degradados, existem problemas nas coberturas, infiltrações de água, deficiências de consolidação nas paredes, que assumem, quanto aos Pavilhões, uma dimensão de alarme, tendo em conta a ruína acelerada em que se encontram. Servindo como depósito e desorganizado armazém do Centro Hospitalar para equipamentos e materiais já não utilizados, detectam-se portas arrombadas, lixo acumulado em salas e corredores, radiografias e folhas de arquivo espalhadas pelo chão, bem como documentos da Casa da Cultura, que conviria salvar e confiar à guarda da Associação PH. Acresce a corrosão infiltrada na pedra, causada pela acidez dos dejectos de pombos, uma das mais graves patologias com que se debate a preservação patrimonial, a que haverá que somar, atendendo à precária instalação eléctrica, o perigo de ocorrência de incêndio. Surpreende bastante a surpresa manifestada pelos Autarcas perante o estado de abandono irresponsável que puderam constatar. Bastaria olhar, mesmo de fora, para perceber de imediato. Se não tinham uma noção aferida do património de que iriam tomar posse, se nem sequer foi elaborado um inventário, é forçoso concluir que o respectivo protocolo de transferência, obrigando ao pagamento de rendas, foi negociado à pressa e com alguma ligeireza. É que, em termos financeiros, os montantes implicados podem revelar-se muito mais vultuosos do que o inicialmente previsto.
Pelo que se sabe da reunião há dias ocorrida entre o Ministro da Saúde e uma delegação autárquica (sem que as forças políticas representadas na Assembleia Municipal tivessem sido avisadas), o novo governo não está interessado em associar o Hospital Termal ao SNS, erro clamoroso que talvez o PS local possa contribuir para desfazer. A presença do Hospital Termal, beneficiando de autonomia como unidade prestadora de cuidados de saúde, num conceito de Medicina Integrativa, salientando a singularidade das virtudes terapêuticas das suas águas, excelentes no tratamento de doenças reumáticas e do foro respiratório, aliviaria decerto os fluxos de utentes no hospital de agudos.
Cabe aos Caldenses decidir se querem um Hospital Termal ou um Hospital Term(in)al: Não podemos permitir que o Hospital Termal, matriz da nossa cidade, o mais antigo da Europa, assombrosamente moderno na sua concepção original e até há três anos, o mais antigo em funcionamento do Mundo, acabe condenado à pena terminal!

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