Estamos em pleno mês de Julho. A maioria das actividades produtivas estão em silly season (tradução livre: férias) .
Depois dos longos meses dos frios extremos em que os termómetros marcam regularmente temperaturas inferiores a vinte graus negativos, mudamos bruscamente, e praticamente sem termos direito aos agradáveis dias primaveris tão típicos de climas mais temperados, para calores intensos carregados de humidade, em que os valores diurnos dos termómetros andam alegremente entre os trinta e os quarenta graus, depois dos meteorologistas terem inventado um novo vocábulo, humidex (isto é, a sensação de calor provocada pelo elevado grau de humidade).
Para escapar à dureza dos intensos calores deste mês, estabeleceu-se que, nas duas últimas semanas de Julho de cada ano, todos os trabalhadores têm direito às « férias da construção». Se inicialmente a origem desta expressão, derivou do facto de serem apenas os trabalhadores da indústria da construção que gozavam férias nesta altura, hoje, praticamente toda a actividade produtiva da província funciona nesta quinzena com pessoal reduzido, apesar de em nenhum sítio, se ver a típica nota, tão comum nas vitrinas de muitos pequenos comércios portugueses:
– encerrado para férias do pessoal!
Já mencionámos anteriormente que apenas uma ínfima minoria dos trabalhadores canadianos tem direito a quatro semanas de férias pagas (quando referimos aos nossos amigos deste país que em Portugal se trabalha 12 meses e se recebem 14, acham a situação caricata mas acabam por sorrir, dum sorriso amarelo), mais raros são ainda, os que gozam as quatro semanas de uma só vez, sendo os restantes obrigados a fragmentá-las em dois períodos distintos no ano.
Caso para dizer que, afinal, nós ainda temos um longo caminho a percorrer até obtermos pequenos grandes direitos, que a maioria dos trabalhadores do Sul da Europa, há muito viram consagrados nos seus Contractos Colectivos de Trabalho, e é com uma pontinha de indisfarçada inveja que os habitantes dos países do Norte da Europa e da América, olham para os seus amigos da bacia mediterrânica. Estas férias «à francesa», em que um país praticamente pára durante um mês, sempre nos fez alguma confusão, e de certa maneira interrogávamo-nos se a longo prazo seria viável. Parece que não.
Não sabemos se foi numa saudável tentativa de querer alterar este estado de coisas, que o actual Primeiro Ministro de Portugal escolheu para a pasta da Economia, alguém que, após a formação universitária de primeiro ciclo, escolheu este grande e maravilhoso país, cuja maior riqueza são os seus habitantes, para concluir a sua formação, trabalhar, e criar e educar os seus filhos. E que, desde a sua entrada em funções quiz dar um cunho especial ao seu ministério, e quebrar um dos grandes tabus da «velha» sociedade lusitana. Transportar para esse pequeno rectângulo o hábito saudável, de tratar todos os colegas de trabalho pelo respectivo nome. A reacção veio célere e sarcástica. Numa entrevista infeliz ao canal de televisão TVI, um dos seus colegas de partido criticou-o severamente, e duma forma que demonstra bem, quanto o caminho vai ser longo e penoso para Portugal, ao afirmar perante as câmaras :
– Imagino o motorista a perguntar ao ministro, « Ó Álvaro, vamos para o ministério ou vamos beber um café?»
Como se o facto de tratar alguém pelo nome, ou pelo bem português «Sôr Dótôr» alterasse o grau de respeito entre dois interlocutores. No entanto, o senhor Rebelo de Sousa, eventualmente em resultado de velhos traumas de infância, resultantes quem sabe, do facto de ter sido criado no ambiente palaciano dum antigo governador colonial nos consulados de Salazar e Caetano, ou outros que não conhecemos, entende que sim. Como compreendemos que o jovem Ministro da Economia depois de vários anos de vivência num país do chamado «Primeiro Mundo» e habituado a que o tratem pelo nome, numa das maiores universidades canadianas, deverá ter alguma dificuldade em aceitar que o tratem doutra forma.
Pensamos no entanto que para bem de Portugal e dos portugueses, os Marcelos Rebelos de Sousa desse país são espécie em vias de extinção, pois é através de pequenas, e aparentemente inócuas iniciativas do género da que foi adoptada pelo Ministro Santos Pereira, ou até de outras, como a da jovem Ministra da Agricultura que deixou de considerar a gravata como indumentária obrigatória dos seus colaboradores masculinos que , pouco a pouco, as mentalidades lusitanas vão evoluindo. Ainda há bem pouco tempo, aquando da nossa recente estadia nas Caldas, ao passarmos alguns momentos numa instituiçâo bancária da cidade, a nossa companheira nos dizia à saída:
– estava um frio de rachar no escritório.
Explicamos-lhe que era para que os empregados se sentissem minimamente confortáveis nos seus completos de fato e gravata. Pois é, replicou ela, mas as clientes de passagem gelam.
A temperatura no interior da sucursal bancária deveria andar pelos cerca de vinte graus. Bastava subir os termóstatos de apenas cinco graus, para que o consumo de energia baixasse de imediato e com ele, os custos indirectos de produção, o que no final do ano poderia significar a mudança da côr da última linha do balanço, do vermelho para o preto. E a produtividade dos funcionários em nada seria por isso afectada….desde que os homens pudessem retirar esse esquisito e inconfortável adereço a que se convencionou chamar, gravata. Há quantos anos, quando se entra em qualquer escritório na cidade de Montreal, é normal ver os homens sem tal coisa à volta do pescoço, que em nada contribui para a liberdade de movimentos da gente masculina. E, à boa maneira anglo-saxónica, mas apenas e excepcionalmente à sexta-feira (o famoso Casual Friday) até se aceitam os Jeans, como parte da indumentária.
Quem sabe se brevemente Portugal ainda acaba por adoptar um Casual Friday dress policy ?