Crónica do Québec (Canadá) – As séries eliminatórias da L.N.H.

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notícias das CaldasNa altura em que escrevemos esta crónica vivem-se  os momentos mais intensos da Liga Nacional de Hóquei. Sobre o gelo, claro. Depois la longa época regular que começou em Outubro, as equipas que ficaram nos  lugares cimeiros das diversas divisôes voltam a encontrar-se ,  para decidir o vencedor da Taça Stanley.  Como sucede com todos os desportos profissionais na América do Norte, depois das várias equipas dos dois países, Estados Unidos e Canadá, se terem defrontado múltiplas  vezes entre si, no caso do hóquei, tratando-se do desporto nacional do Canadá, é a  partir do mês de Abril que tudo se torna mais sério .

Nós, como muitos outros, apenas a partir desta fase lhe dedicamos alguma atenção.  Sendo os Canadiens de  Montreal uma das equipas mais antigas e com maior historial em termos de vitórias, pois num passado já algo distante tinham direito de preferência na contratação dos jogadores canadianos franceses, sendo desde sempre nativos do Québec  alguns dos  melhores praticantes da modalidade , é com algum desprendimento  que  assistimos a uma autêntica febre de hóquei  que invade  a  nossa província. Nesta eliminatória a equipa adversária são os Boston Bruins, e para se ter uma ideia da atenção que se dá por cá a esta competição lembramos apenas que há dias, o debate televisivo entre os chefes dos nossos quatro maiores partidos políticos federais, com as  eleições marcadas para o dia 2 de Maio, optaram por alterar a data inicialmente prevista para o mesmo, pois coincidia com a hora da realização dum jogo Des Canadiens.
Sem chegarmos aos exageros das televisões portuguesas,  que, numa altura  em  que a troika,  (novo vocábulo para alguns, muitos,  portugueses  e deliciosas recordações para uns tantos da nossa geração) tenta encontrar uma solução que resolva  os graves  problemas que andaram a ser escamoteados aos habitantes da nação lusitana, depois da recente final da Taça de Portugal em futebol, os jornalistas das diversas TVs  entenderam que o melhor seria  abrir todos os telejornais com as peripécias da dita futebolada.
Esta crónica é no entanto sobre hóquei e é de hóquei que vamos continuar a falar. As equipas estão divididas por duas  divisões,  Este e Oeste. Cada uma destas zonas geográficas engloba  quinze organizações. A divisão Este está sub-dividida em 3 zonas,  Nordeste, Atlântica e Sudeste.  A divisão Oeste divide-se em, zona Central,  Noroeste e do Pacífico. Estas sub-divisões são constituídas  por cinco equipas cada, que jogam muitas vezes entre si  durante a época regular. As  equipas de divisões diferentes encontram-se menos vezes do que as que são da mesma divisão ou de diferentes zonas da mesma divisão.
Note-se que aqui,  o termo divisão não tem o mesmo significado que na Europa. O facto de uma equipa ficar no último lugar da sua divisão não equivale à despromoção, como se usa em Portugal e na Europa em geral.  Aqui, o direito de fazer parte duma liga profissional compra-se com muitos milhões de dólares, mas o risco de serem sempre os mesmos a ganhar não se põe, pois existe a chamada  repescagem.  Trata-se do direito de opção, que é concedido aos últimos classificados de cada época,  na escolha dos melhores jogadores jovens dessa mesma  época.   Este direito não se circunscreve geograficamente apenas à América do Norte, mas igualmente aos diversos campeonatos europeus, donde  vêm alguns dos nossos melhores praticantes da actualidade,  sobretudo da Suécia, Finlândia, Rússia e República Checa.  Está assim garantida, uma salutar e regular alternância no nome das equipas vencedoras.
Outro pormenor que devemos salientar é a presença  de quatro árbitros, profissionais,  de campo, que no caso de dúvida solicitam a ajuda dos meios electrónicos,  e no espaço de alguns segundos clarificam se a pequena  rodela de borracha que viaja a velocidades extremas,  ultrapassou ou não a fatídica linha de baliza.   Outra diferença relativamente ao soccer é que,  as eliminatórias até ao último jogo da grande final, não se resolvem em apenas dois jogos  mas sim no melhor de sete partidas, e muitas vezes apenas ao sétimo encontro,  se encontra o vencedor. No caso presente a equipa de Montreal que tinha ganho os dois primeiros encontros em Boston, perdeu de seguida os dois que disputou em casa, e neste quinto desafio  que se  está de novo a disputar em  Boston, após o tempo regulamentar de três períodos úteis de vinte minutos cada,  o resultado era um empate. No desempate,  por iguais periodos de vinte minutos, tudo termina quando uma equipa marca um golo. Desta vez a sorte coube à equipa de Boston. A série está agora,  3-2 a favor dos americanos.  Dentro de 72 horas, tudo poderá ficar decidido, ou talvez não. Se Montreal vencer teremos um sétimo e derradeiro  match.  As equipas encontram-se três a quatro vezes na mesma semana, e tudo isto terá o seu epílogo no final de Maio, mas normalmente  já em Junho, dependendo da duração de cada eliminatória.
Escusado será dizer que os diferentes anfiteatros cobertos, onde tudo isto se passa,  têm capacidade para cerca de vinte mil espectadores,  que o barulho ambiente é simplesmente ensurdecedor, e todos os jogos são disputados com a totalidade dos bilhetes antecipadamente vendidos. As equipas normalmente são propriedade de grupos económicos ou de grandes investidores individuais,  sendo de salientar que até à época passada o proprietário do Clube de Hóquei Les Canadiens de Montreal  era o americano George Nield  Gillet, simultaneamente proprietário do clube de futebol  Liverpool da Premier League . Entretanto desfez-se destes dois activos, que guardou cerca de três a quatro anos e no caso da nossa equipa de hóquei obteve mais-valias fabulosas pois comprara-a  numa altura em que o nosso dólar valia cerca de setenta cêntimos do dólar US e vendeu com as duas moedas em paridade. Razão tiveram os nossos governantes  na altura,  quando resistiram a enormes  pressões para que adoptássemos o dólar americano. Hoje a questão nem se pôe, e todos concordam que a independência dum povo, passa pela posse duma moeda própria e flutuante.
Quando este crónica for publicada já uma das equipas,  Montreal ou Boston,  que neste momento se defrontam,  terá ficado pelo caminho, mas a tarefa dos vencedores  terá sido tudo menos fácil. Para os leitores que têm em Portugal  acesso aos canais de desporto, aconselhamos  sinceramente que acompanhem as séries da Stanley Cup até à final, pois o espectáculo vale a pena, e vai muito além da violência aparente e real dos protagonistas. Bon Match!

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