Crónica do Québec (Canadá) – Mélissa et Marie

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Falámos na última crónica, do passado dia 2 de Setembro, da atracção que os grandes espaços do Québec exercem sobre os jovens de além Pirenéus, mas não prevíamos que estávamos em vias de podermos apreciar de tão perto, o enorme brilhozinho nos olhos de duas belas jovens, que decidem abandonar o conforto e a segurança do lar materno para uma pequena, ou talvez não, aventura deste lado do grande mar oceano.

Aquando da nossa recente estadia em Portugal nos finais de Maio, fomos abordados por velhos amigos, acerca do projecto, no âmbito do prosseguimento da formação universitária da Mélissa, de vir estudar durante um ano em Montreal. Tratando-se duma das filhas de uma, infelizmente precocemente desaparecida, antiga amiga de adolescência da nossa companheira, e como nos apercebemos de imediato, da enorme afeição que os amigos do Chão da Parada nutrem por ela, foi com indisfarçável entusiasmo que de imediato lhes demos os nossos contactos de forma a facilitar a rápida integração da jovem nestas terras.
Como o trabalho nos esperava do lado de cá, durante a curta estadia na aldeia, não pudemos saber muito mais. No entanto, uma vez chegados a Montreal e depois da troca de alguns emails, ficámos a saber que a Mélissa não vinha sozinha. A amiga de infância, Marie, que aos 18 anos, trocara as montanhas dos Pirenéus Atlânticos, pelas caóticas, mas cheias de mistérios e de vida, ruas de Paris, tinha decidido igualmente, ainda antes de festejar o vigésimo terceiro aniversário, continuar os estudos de Psicologia em Montreal. A integração numa sociedade diferente é sempre difícil, a opção de o fazer solitariamente aumenta exponencialmente essas dificuldades. Não só entendemos, como aprovámos de imediato a ideia das jovens, de partirem juntas para a aventura.
Assim, no passado dia 29 de Agosto, ao fim da tarde dum quente dia de Verão, lá nos dirigimos para o aeroporto Pierre E. Trudeau, de Montreal, numa viagem igual àquela que, há cerca de 35 anos, outros fizeram por nós. Tinham partido de Toulouse cerca do meio-dia local e após uma rápida escala em Londres, cerca das 18 horas de Montreal, o seu avião aterrava em terras de Québec. Rapidamente, sendo ambas titulares de passaportes franceses, Mélissa e Marie, dirigem-se para o exterior das zonas de segurança. Passaram por nós, anónimas, entre a enorme multidão que transita por todos os grandes aeroportos em finais de Agosto. Alguns momentos depois no entanto, a nossa companheira descobre a sua velha amiga de há tantos anos. Não conhecíamos a Mélissa, mas nem era preciso. Tratando-se da cópia conforme de sua mãe, rapidamente a descortinamos num canto recatado. Apresentámo-nos reciprocamente, e ao constatarmos a enorme quantidade de bagagem que ambas possuíam, defeito profissional, e habituadíssimos que estamos a visualizar o máximo que podemos transportar nos aviões, uma das primeiras perguntas foi de saber se tinham pago bastante pelo excesso da mesma. Afinal não tinham pago tanto como inicialmente tínhamos pensado.
Durante a curta viagem de cerca de sessenta minutos até à nossa residência, dum lado e doutro a curiosidade era visível, nós a tentarmos perceber o que faz com que cada vez mais jovens franceses escolham o Québec como terra de acolhimento, e as nossas convidadas a fazerem-nos um número infindável de perguntas sobre a vida em Montreal.
Como a rentrée  teve apenas lugar no passado dia 6 deste mês, aproveitámos para lhes dar a conhecer duma forma rápida os lugares mais interessantes da cidade e arredores para duas belas jovens, ontem ainda adolescentes, passarem alguns momentos agradáveis. Pelo meio, uma rápida visita de um dia à cidade de Québec, que impressiona sempre pela semelhança arquitectural com algumas cidades fortificadas da Velha Europa.
Na altura em que esta crónica for publicada já a Mélissa e Marie, entraram numa rotina diária que se manterá pelo menos durante cerca de doze meses. Transmitem-nos a imagem de duas jovens belas, como apenas algumas jovens o são, mas igualmente extremamente felizes e responsáveis. Dentro de breves dias, estarão instaladas num pequeno apartamento, e a partir daí, independentemente de continuarem a saber que o nosso apoio está mesmo ali ao lado, caber-lhes-á a elas «voarem» pelas suas próprias asas, o que, pelo que temos observado durante estes dias de coabitação, não deverá ser difícil. Boa sorte miúdas, et bien venues chez-vous au Québec !