Para os leitores de Portugal o título desta crónica, em princípio não tem qualquer significado. Já para qualquer canadiano, representa o montante que a maioria de nós recebe de subsídio de férias nos primeiros anos de actividade. E porquê 4% ? Aqui, e para facilitar a gestão dos fluxos monetários nos orçamento das famílias, os ordenados não são pagos de mês a mês mas sim semanalmente, ou em maior escala, quinzenalmente, dando assim azo a que haja entrada de dinheiro na conta bancária do trabalhador com mais frequência. Outro factor a ter em consideração, sobretudo nestes tempos de crise, é que os empregadores com dificuldades de tesouraria, são assim, mais rapidamente descobertos.
Se considerarmos que o ano tem 52 semanas, a entidade patronal o que tem a fazer para qualquer funcionário, é determinar o salário anual e calcular 4% do mesmo. Esse é o montante que a grande maioria dos trabalhadores canadianos leva para casa nos primeiros cinco anos consecutivos de actividade na mesma empresa. Alguns empregadores há até que, na altura do pagamento do salário semanal, lhe acrescentam os tais 4%, e ficam assim de imediato com o pagamento das férias efectuado. E como dissemos anteriormente, para que o trabalhador tenha direito a três semanas de férias pagas, terá de ficar na mesma entidade patronal mais de cinco anos consecutivos. A partir do sexto ano beneficiará de 6% do salário anual, como subsídio de férias.
Perguntarão, e então ninguém recebe um mês de salário nas férias? Apenas alguns, poucos, priveligiados no sector privado, e claro, todos os funcionários públicos ao fim de um ano de efectividade no sector do Estado.
Quando aqui chegámos no já longínquo ano de 1976, este foi um aspecto que nos chocou sobremaneira, sabendo as vantagens que todos os trabalhadores na Europa Ocidental tinham, e continuam a ter, neste aspecto. Rapidamente, como os outros, nos habituámos à situação e ainda hoje se trata de algo perfeitamente consensual, entre a grande maioria da população do Québec e do Canadá em geral. Apesar deste país ser incumensuravelmente mais rico em todos os capítulos que Portugal, a sociedade no seu todo aceita este estado de coisas. Injusto, dirão alguns. Talvez, mas não será o preço a pagar para vivermos num ambiente de paz social e económica sem os constantes sobressaltos a que as sociedades europeias estão sujeitas?
Esta reflexão surgiu-me depois da leitura dum livro, passado à estampa no recente mês de Julho de 2010, da autoria do economista francês de origem argelina, Jacques Attali, conselheiro entre 1981 e 1991 do antigo presidente socialista François Mitterrand. O titulo em francês «Tous ruinés dans dix ans ?» (todos na ruína dentro de dez anos ?) mostra-nos de forma desassombrada como ciclicamente a Europa passa por situações similares à que se vive presentemente. A própria França já por sete vezes entrou em situação de «default» (incapacidade de pagar os juros da dívida pública), a última das quais em 1797.
Se considerarmos que hoje se vive a situação paradoxal e nova, de serem os países «pobres» do Sul a financiarem os luxos extremos dos habitantes dos países «ricos» do Norte. Se além disso, considerarmos igualmente que estes mesmos países do Norte, para pagamentos de aberrantes pensões e reformas de todo o tipo, que fariam as delícias dos habitantes dos países credores do Sul, estão igualmente a pôr em risco a qualidade de vida das gerações futuras.
Não terá chegado o momento de pensarmos nessas gerações, e para bem dos nossos filhos e dos nossos netos, abdicarmos um pouco, de condições de vida que apenas mantemos à custa de sucessivos empréstimos que nos são concedidos por sociedades cujos habitantes,( pense-se no Brasil, Rússia, India ou China, o famoso BRIC, por oposição aos infelizes PIGS, Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) vivem em condições muito inferiores às do europeu médio.
Na nossa modesta opinião, e observando diariamente as taxas de juro de 7% que o Estado português já paga, para financiar as suas despesas correntes, cremos ter chegado a altura de, uma vez por todas, Portugal e os portugueses, adaptarem os seus consumos aos seus niveis de produção.
J.L. Reboleira Alexandre
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