Já em crónicas anteriores mencionámos o carácter multi-étnico e multicultural das duas mais ricas e prósperas nações do Novo Mundo. E a província (Província é o nome exacto, e não Estado, como se verifica nos Estados Unidos, e que a ignorância da generalidade dos media portugueses, repete à tout propos) do Québec, apesar da particularidade de possuir como língua oficial, o belo idioma de Molière, por oposição ao grande mar anglófono que nos rodeia, é igualmente terra de acolhimento de povos oriundos das mais variadas latitudes.
Se após a conquista anglo-gaulesa, e no início do povoamento, foram sobretudo gentes oriundas da China e do Japão que ocuparam os imensos territórios deste maravilhoso país, a que se seguiram os refugiados de nações mártires do sul do Cáucaso, particularmente da Arménia, seguindo-se-lhes mais tarde, nos inícios do século XX, os grandes fornecedores de mão de obra barata e indiferenciada, Itália, Grécia, Espanha, Polónia, antiga Jugoslávia e em menor escala Portugal, a situação alterou-se completamente nos nossos dias, nestes primeiros anos do século XXI.
A imigração do Québec, por questões linguísticas, é neste momento essencialmente alimentada pelos povos de países francófonos de África, e de novo pela França, como também já mencionámos algumas vezes. Duma maneira geral, o resto do Canadá recebe sobretudo imigrantes oriundos dos países mais pobres da Ásia, como o Sri Lanca, Índia e Paquistão ou de algumas ilhas anglófonas das Caraíbas. Todos estes países têm a particularidade de não terem a religião cristã como religião principal, e no Québec, este pormenor faz-se sentir com maior acuidade, pois praticamente todos os que chegam actualmente à nossa provincia, se excluirmos os franceses, e sempre por questões linguísticas, são oriundos do Haiti e das diversas nações a sul do mar Mediterrâneo, especificamente de Marrocos, da Argélia ou do Líbano, antigas colónias francesas, mas de língua Árabe e de cultura e religião muçulmana. Esta amálgama de povos possui hábitos e tradições que facilmente entram em conflito com a nosssa compreensão cristã e ocidental, que nos últimos anos, sobretudo depois da década de sessenta do século XX se libertou de retrógadas imposições de índole religiosa.
A adaptação destes povos a uma nova sociedade, não se faz sem atritos, e os custos iniciais de inserção e adaptação da mesma, não se podem de forma alguma comparar com os custos das anteriores vagas de imigração. Estes imigrantes, no início da sua estadia, têm rendimentos muito inferiores aos da generalidade da população, vivendo muitas vezes da ajuda dos que, através dos impostos sobre os seus salários mais elevados, mantêm um generoso sistema de apoio social, que é apanágio da sociedade canadiana e nos distingue do rico e poderoso grande vizinho do Sul. As actuais políticas de imigração que colocam mais ênfase no nível de escolaridade (nem sempre garantia de empregabilidade), conhecimento das línguas oficiais ou de objectivos puramente humanitários de reunificação das famílias, por oposição a uma escolha baseada nas reais necessidades do mercado de trabalho, segundo algumas organizações, seriam provavelmente mais favoráveis ao Canadá. Segundo os mesmos, os imigrantes escolhidos tendo por base ofertas válidas de trabalho, previamente estabelecidas e acordadas (os conhecidos contratos de trabalho) obtêm geralmente maior e mais rápida estabilidade económica.
Como resultado do que se disse anteriormente, e adicionando a baixíssima taxa de natalidade dos quebequenses, vive-se neste momento a situação paradoxal de, na maioria das escolas primárias da cidade de Montreal, as crianças de religião cristã estarem já em minoria, e onde mais de 50% dos seus alunos têm pelo menos um progenitor que não nasceu no Canadá. Esta grande proporção de imigrantes influencia outra estatistica, que é a de somente um terço das crianças nascidas em Montreal em 2011, não serem filhos de pais casados ou em união civil, pois as famílias que chegam de outras culturas, têm origem em sociedades onde o casamento ainda continua a ser fortemente encorajado. Já no resto da nossa província, fora da grande metrópole e motor económico da nação quebequense, onde por norma se instalam inicialmente os recém chegados, e ainda no ano de 2011, já é de cerca de 63%, a percentagem de crianças nascidas de pais que não contrairam o matrimónio civil ou religioso.
Face à realidade destes números, é mais fácil entender a geral grande abertura do povo canadiano a hábitos, culinários ou outros, diferentes dos dos seus antepassados.
J.L. Reboleira Alexandre
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