É do conhecimento geral que o “pai” do Zé Povinho foi Rafael Bordalo Pinheiro. Mas o Zé foi crescendo, emancipou-se e desde então foram vários os caricaturistas que o recriaram. Mantendo sempre alguns traços identificativos do “ZÉ Rafael”, foi ganhando pormenores herdados dos novos pais.
Rui Pimentel, arquiteto de formação foi um dos caricaturistas que lhe deu forma.
Ei-lo aqui, de ar decidido, com um pormenor surpreendente: empunha um lápis na sua mão direita, o que nos faz supor que a sua luta vai ser feita pela palavra escrita; pensamos que será uma batalha de argumentos convincentes capaz de derrotar o mais acérrimo inimigo.
Não é muito habitual contarmos com a opinião dos autores sobre a criatura a que dão vida. Neste caso, temos sorte. No livro de Rui Pimentel, intitulado “O Zé Povinho e outras Caricaturas”, editado pela Câmara Municipal de Lisboa conjuntamente com a Biblioteca Museu da República e Resistência, o autor emite a sua opinião sobre tão popular cidadão. Ora ouçamo-lo:
“[…] o seu aspecto físico, a sua ruralidade, o seu trajar do Séc. XIX, a sua imagem desatualizada, levou por várias vezes a que se tentasse criar um substituto, uma imagem mais adequada aos nossos dias, daquilo que hoje é o povo português; […] mas a verdade é que até hoje não se conseguiu, e o Zé Povinho do Bordalo continua pujante a servir os vários caricaturistas que o utilizam na sua função de personagem-tipo, insubstituível embora claro, adaptado ao traço de cada um.”
[…]“Do tempo que medeia a sua criação aos nossos dias, vão tremendas evoluções, mas a figura do Zé Povinho está longe ainda de poder reformar-se; consegui-lo-á alguma vez?”