A recente visita de 24 horas, nos dias 12 e 13 de maio de 2017, do Papa Francisco ao Santuário de Fátima, consagra e reforça a universalidade das visões dos pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta no nosso tempo, agora que se celebram os cem anos destes extraordinários acontecimentos históricos. Tal como em 1917, a actualidade da mensagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima é ser uma mensagem contra o inferno da guerra e de esperança na paz, apelando ao reforço da fé, congregada em volta de uma Igreja “pobre em meios mas rica em amor”, como a caracterizou o Papa Francisco na sua homilia de despedida. No entanto, a consagração universal de Fátima como o “Altar do Mundo” não nos deve fazer esquecer nem apagar o rico património de um forte culto Mariano em Portugal. A devoção a Maria, Mãe de Jesus Cristo, mãe das nossas mães, é uma componente essencial do culto cristão, com as virtudes e qualidades que procuramos na Terra-Mãe.
Muito antes das extraordinárias visões dos pastorinhos em Fátima no ano de 1917, já existia desde há muitos séculos na nossa região, um forte culto Mariano a Nossa Senhora da Nazaré, que originou ao longo dos tempos a construção de mais de 600 pequenas e humildes capelas e ermidas ao longo de toda a Estremadura atlântica de Portugal. Estas capelas e ermidas são o testemunho vivo da fé e da espiritualidade religiosa do nosso povo, espalhadas desde o actual território do Oeste norte até ao extremo norte do distrito de Leiria. Tal como os moinhos de vento, outra das construções emblemáticas deste território, as capelas e ermidas Marianas do Oeste norte e distrito de Leiria devem merecer a nossa melhor atenção, tendo como objectivo a sua justa valorização cultural e social! A consagração universal de Fátima como o coração vivo do culto Mariano em Portugal e no Mundo deve também passar, cada vez mais, pela valorização das pequenas e humildes capelas e ermidas que são o testemunho vivo da sua longínqua origem e peregrinação. Reconhecida desde o Concílio de Éfeso no distante ano de 431.
Lamentavelmente, muitas dessas capelas e ermidas já desapareceram, nomeadamente nos últimos vinte anos, muitas vezes por imperativos do chamado “progresso”, que impõe, sem discernimento nem respeito, a demolição das antigas capelas e ermidas e a construção de novas e mais espaçosas igrejas, por vezes com responsabilidades directas dos próprios párocos e também das chamadas “comissões da igreja”. Com prejuízo para todos nós, que ficamos assim culturalmente mais pobres. Por isso se torna actual este meu apelo para que as autoridades locais, nomeadamente os municípios de Peniche, Óbidos, Cadaval, Bombarral, Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Marinha Grande e Leiria, em articulação com as autoridades religiosas, trabalhem em conjunto na implementação de políticas intermunicipais que valorizem em rede estas mais de 600 capelas e ermidas do Oeste norte e distrito de Leiria, um património de elevado potencial na criação de rotas de turismo cultural e religioso na nossa região, com óbvios retornos económicos e sociais que fortalecem activamente a coesão territorial. As capelas e ermidas do Oeste norte e distrito de Leiria são, para além de um testemunho vivo do culto Mariano em Portugal, uma marca cultural identitária da nossa região.Devem merecer o reconhecimento e a desejável valorização de todos!