E agora josé? Adalberto Alves, Arabista do Destino!

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José Ramalho
Actor & Marionetista

Desde o séc. VIII o território que viria dar lugar ao “imenso” Portugal como se canta na canção “Fado Tropical” de Chico Buarque, foi ocupada pelos árabes, dando-lhe à Península Ibérica o nome de Al-Andaluz. Ao nosso rectângulo, a ocidente da Península chamou-se Gharb al-Andalus, numa leitura literal.
A presença árabe nas terras lusitanas fez-se por muitos séculos com as influências mais variadas nas nossas marcas culturais, identitárias de um olhar, que nesse longínquo tempo, afirmou indelével assento na sensibilidade manifesta na escrita, nos hábitos, na arquitectura, na gastronomia, mas sobretudo no conhecimento, que veio a ter papel de destaque na epopeia da globalização, os Descobrimentos, ou do Achamento, como na carta de Pêro Vaz de Caminha, sobre a chegada a Terras de Vera Cruz, sob a capitania de Pedro Álvares Cabral.
O período do Al-Andaluz, que marca presença na Ibéria até 1492, no reino de Granada, recheado de muitas convulsões, necessita de ser escalpelizado, divulgado e comunicado, sobretudo no território português, para dar a conhecer na escala e dimensão, a grandeza deste momento civilizacional, ímpar num povo ocupante.
É um facto, que qualquer ocupação, é feita pelas armas, pela força beligerante, nos nossos dias continuamos a viver e a assistir a essa prática.
A do Al-Andaluz, cumpriu esse desiderato, mas também promoveu a paz, a inclusão, palavra tão cara nos dias que correm, como se só agora tivesse sido descoberto o seu verdadeiro sentido. Lá atrás, num tempo, que importa nos nossos dias, repito, dar a conhecer na sua plenitude aos de hoje, lá atrás, na paz, promoveu-se o conhecimento, a arte, a filosofia, a poesia, como caminhos para o esclarecimento, para o crescimento, enfim, para a construção de futuro, onde cada um ganha consciência do seu poder na promoção do colectivo, garante da grandiosidade de uma civilização.
É pela Arte, que vamos! Desse período, destaco a figura de Al-Mutamid (1040-1095), nascido em Beja, foi governador em Silves e príncipe em Sevilha. Estadista respeitado, é sobretudo como poeta sublime que nos é dado a conhecer hoje.
Em 1996, dirigia nesse tempo a Companhia Marionetas de Lisboa, encenei o espectáculo “Cid” com base no poema castelhano “Cantar de Mio Cid”, incluí no texto poesia de Al-Mutamid, traduzida por Adalberto Alves, que generosamente, me autorizou a sua utilização. Desde esse tempo, fiquei com uma gratidão e um respeito a este homem, escritor, intelectual, arabista, homem de causas, promotor da luz do conhecimento, com quem amiúde fui mantendo contacto, por via directa e indirecta.
Todos temos uma dívida para este incansável investigador maior da cultura árabe, matriz da nossa identidade, que em 2008 recebeu o Prémio Internacional Sharjah da UNESCO para a Cultura Árabe.
Adalberto Alves, tem uma obra vasta, que os mais curiosos, devem desafiar-se a procurar e a bafejarem-se com a iluminação dos seus textos, que este também jurista, pois é, é preciso alimento material para financiar o alimento espiritual, vai-nos presenteando, com a sua lupa, sagaz e capaz de nos favorecer, na promoção do olhar necessariamente tolerante para uma cultura riquíssima, sobejas vezes, apresentada com olhares enviesados que em nada fazem jus à sua grandeza civilizacional.
No próximo dia 11 de Março, às 16h30, na Mesquita Central de Lisboa, é realizado o lançamento do livro: Adalberto Alves | 40 Anos de Vida Literária.
É um momento relevante para acrescentar Luz ao nosso conhecimento!
“a luz faz o elogio desse rei vitorioso cujo louvor tão famoso, seja no inverno ou no estio, eu entoo em homenagem como pássaro mavioso posto em glória na ramagem” Al-Mutamid. ■

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