José Luiz de Almeida Silva
Portugal tem assistido na sua história recente a dois fenómenos contraditórios: por um lado, à falta crescente de médicos de família e especialistas em certas áreas, e por outro, à impossibilidade sentida, por muitos jovens, em frequentar cursos de medicina, por falta de vagas, obrigando aqueles que atingem o objetivo a ter notas incrivelmente altas, estudar no estrangeiro ou não seguir a carreira.
Este paradoxo, para além da crise crescente que acarreta para o Serviço Nacional de Saúde e para a própria instabilidade dos serviços, pode inviabilizá-lo a prazo, provocando simultaneamente um acréscimo dos custos desses serviços e originando tratamentos diferenciados àqueles que têm acesso ao sistema privado através de seguros ou à ADSE.
Também as decisões compreensíveis, por um lado, de muitas autarquias em multiplicarem as instalações de serviços médicos pelo território, contraria, por outro, a possibilidade de uma distribuição equitativa de meios e de pessoal médico, criando novas tensões e insatisfação entre os utentes.
Em acréscimo, decisões incoerentes, sem obedecerem a estratégias nacionais responsáveis e inteligentes, ignorando a evolução que o setor da saúde está a viver em Portugal e, principalmente, no mundo mais rico e desenvolvido, e tecnologicamente mais competente, vai levar-nos à duplicação de gastos e a soluções de curto prazo, que constituirão custos escusados a médio e longo prazo.
Geralmente soluções populistas e atamancadas, tornam tudo mais caro e geram muito descontentamento, podendo proporcionar votações eleitorais favoráveis, mas que pesam nos orçamentos no final, pagando todos pelos erros cometidos.
Estamos num nó górdio, como na lenda do rei da Frígia, que ninguém sabe ou quer desatar. ■