Passem meses, anos ou décadas, há assuntos que teimam em manter-se na ordem do dia, o que diz muito da nossa incapacidade para resolver problemas estruturais.
É o caso da Lagoa de Óbidos, que há muito reclama um olhar atento por parte das entidades públicas que têm responsabilidades sobre o maior sistema lagunar da costa portuguesa e do qual dependem, direta e indiretamente, muitas famílias da região.
Não deixa de ser caricato que, após anos de sucessivos apelos e de uma intervenção operada em 2016, o Estado se tenha decidido por efetuar um investimento substancial na dragagem da Lagoa, aprovada pelo Conselho de Ministros em 2017, sem que a obra ainda se tenha iniciado.
Desde então, já se fizeram ouvir todas as justificações (certamente muito plausíveis para quem está instalado num qualquer gabinete ministerial) para o atraso. A última desculpa era que a draga que viria fazer o trabalho estava em França e que, por isso, a empreitada, no montante de 14,6 milhões de euros, teria de aguardar.
Acontece que a draga está no local há mais de dois meses e, desta feita, a justificação para o atraso no arranque das obras é a falta de emissão de pareceres necessários. Afinal, o que ainda faltará acontecer até que a obra avance?
As ineficiências da máquina do Estado estão à vista de todos e este é, apenas, só mais um caso que se arrasta há muito mais tempo do que devia. Se a gestão da coisa pública tivesse em atenção aspetos essenciais de qualquer setor privado, certamente que um equipamento como uma draga não estaria parada dois meses. Por mais PRR que aí venham, há coisas que parecem nunca mudar. ■