Jorge Sobral
Jurista
Ao ser convidado pelos responsáveis da Gazeta para participar com uma crónica mensal, veio-me à memoria as ligações que tive ao longo da vida com o Jornal.
Nos anos sessenta, quando ainda muito jovem, havia um interesse especial em poder ver um pequeno texto ou até um poema, escrito por nós numa das páginas da imprensa local.
No grupo de amigos da altura, lembro que acompanhávamos com atenção e algum frenesim a saída do Jornal. Juntávamo-nos no café invicta, na Praça da República, o Rogério, o Manta e o Fiandeiro. Alguns de nós escreviam poemas, faziam fotografia e mantinham o desejo escondido de alguma vez poderem ver à luz do dia nas páginas da Gazeta, um escrito seu. Foi então mais tarde possível a minha participação pela mão de Domingos Del-Rio, um dos responsáveis do jornal.
Algumas entrevistas feitas a caldenses que naquele momento por várias razões eram notícia. Seguiram-se alguns concursos, levando os assinantes e não só a responderem em cupões que tinham de ser recortados e enviados para a redação.
Terminada esta primeira participação, não mais tive a oportunidade de dar continuidade, pois outros interesses de carater pessoal passaram a ter a minha maior atenção, como por exemplo a participação em peças de teatro, quer na Escola Rafael Bordalo Pinheiro, quer no CCC e mais tarde nos Pimpões.
Há, no entanto, um momento em que volto a estar na rota da Gazeta. Esse momento teve a ver com o 25 de Abril, e a importância que um punhado de caldenses entendeu que o jornal teria na consolidação da democracia.
Anteriormente a orientação do jornal era a defesa do estado novo. Alguns dos seus dirigentes tinham participação política na União Nacional, na defesa da política de direita reacionária que impedia que os portugueses se expressassem livremente.
Vários caldenses foram durante os anos da ditadura presos por razoes de opinião, tendo inclusive, alguns, sido libertados a 27 de Abril de 1974.
Essa minha participação com vários jovens e menos jovens, (opositores), foi no intuito de não deixar que o jornal pudesse desaparecer ou pior, continuar a senda que vinha seguindo. Foram momentos muito agitados, mas também muito empolgantes. Paulatinamente a normalidade foi sendo reposta, havendo a necessidade de se resolver a questão da propriedade. Voltei aí a fazer parte com um conjunto de assinantes, na constituição da Cooperativa Editorial Caldense, tendo sido um dos fundadores. Com a constituição desta entidade resolve-se o vazio criado pela fragilidade dos anteriores responsáveis e a ocupação dos novos atores.
Entra-se então num novo caminho. ■