Considerada como uma das doenças neurodegenerativas mais frequentes, a doença de Alzheimer progride por causas desconhecidas, constitui a principal causa de demência de indivíduos com mais de 60 anos. A idade e a história familiar da doença predispõe o seu aparecimento.
Compreende-se portanto o interesse dos investigadores em procurarem conhecer as zonas de fronteira entre o envelhecimento normal e o aparecimento desta doença, como e quando se manifestam os seus estádios precoces, como eventualmente se podem identificar um estádio transitório, por exemplo.
O que é do senso comum, e que nos atinge a todos nós, até por razões familiares, é saber-se que os doentes de Alzheimer se tornam cada vez menos capazes de realizar qualquer tarefa, mergulhando na confusão que chegue ao ponto de deixar de reconhecer os próprios ente queridos, num lento percurso que pode durar de 8 a 10 anos.
Como é evidente, e está hoje perfeitamente estabelecido, o envelhecimento da população é um fenómeno imparável que está associado a um grande número de seniores que sofrem da perda de faculdades, sobretudo devido à demência. Resta aqui sublinhar que a doença de Alzheimer não faz parte do processo natural de envelhecimento e nem pode ser considerada uma doença mental. Um dos maiores desafios que a doença levanta a nível social é a preparação das atitudes dos familiares, preparando-os para serem cuidadores informados e capazes de resistir ao desgaste psicológico e moral que a doença provoca. Este cuidador vai assistir ao declínio das faculdades mentais do seu familiar, vai presenciar alterações brutais na memorização, no raciocínio e na coordenação dos movimentos. Julga-se que essa deterioração é devida a um problema cerebral que poderá estar associado à degenerescência das células do cérebro. É por isso que todos os livros de divulgação sugerem que se deve procurar um médico para obter um diagnóstico precoce. Os medicamentos actualmente disponíveis não tratam a causa mas os sintomas da demência, ou seja podem apenas contribuir para retardar a sua evolução.
Percebe-se igualmente porque é que os cientistas procuram conhecer com mais fiabilidade os estádios precoces da doença de Alzheimer. É que não existe um teste de diagnóstico específico para a doença, o diagnóstico é feito por exclusão de outras doenças, com uma muito elevada percentagem de certeza. Os médicos testam as capacidades cognitivas dos doentes, tais como a memória, a atenção, a linguagem, a capacidade do doente em resolver problemas e usam imagiologia cerebral para aumentar a probabilidade de se obter um diagnóstico correcto, isto a par de exames de sangue, temografias ou ressonâncias. Obtido o diagnóstico há que procurar formas de apoiar o doente.
“Défice Cognitivo Ligeiro, o envelhecimento e a doença de Alzheimer”, corresponde à preocupação dos investigadores clínicos procurarem conhecer melhor essa região de fronteira entre as alterações cognitivas próprias do envelhecimento normal e o estado precoce da doença de Alzheimer. Défice cognitivo ligeiro é uma expressão usada para descrever esta zona transitória entre o envelhecimento e a doença de Alzheimer em fase muito inicial (por Ronald C. Petersen, Climepsi Editores, 2004).
Os investigadores ainda não têm todas as respostas sobre a evolução de uma demência que pode acompanhar o envelhecimento normal e os sinais precoces da doença de Alzheimer. Crê-se mesmo que existe uma continuidade entre o funcionamento normal e anormal nas pessoas que venham a desenvolver demência. A investigação centra-se sobre a memória, o conhecimento de traumas e abuso de substâncias como o álcool, por exemplo. As pessoas com défice cognitivo ligeiro têm um défice de memória que excede aquilo que se espera para um envelhecimento normal. A investigação esbarra com o facto social e cultural de grande importância: maior parte das pessoas julga que um certo grau de perda cognitiva faz parte do envelhecimento normal, aceita-se com grande resignação o declínio do processamento de informação e do funcionamento da memória. Não há, pois, certezas mesmo com o uso de critérios clínicos para se conhecer os estados iniciais da doença de Alzheimer. O autor não ilude mesmo que existe controvérsia sob a forma como o défice cognitivo ligeiro pode ser definido. Toda a investigação condensada neste livro coordenado por Ronald C. Petersen prende-se à volta deste défice e da controvérsia que ele lança. Tratando-se de uma investigação médica referem-se as características clínicas, os sintomas neuropsiquiátricos, as diferentes imagiologias, a identificação das alterações neuropatológicas, e o tratamento do défice cognitivo ligeiro. Hoje, já se comparticipam medicamentos para o tratamento da doença de Alzheimer, como é o caso das substâncias inibidoras da colinesterase, o tratamento com estrogénios, substâncias anti-inflamatórias (medicamentos anti-inflamatórios não esteróides) e estratégias de redução dos lípidos ou uso de anti-hipertensivos. Como concluem os investigadores neste livro, admite-se que o défice cognitivo ligeiro pode ser a estratégia que ajude o campo da terapêutica da doença de Alzheimer a lançar uma ponte entre os tratamentos que podem der eficazes em doentes sintomáticos e os que são cognitivamente normais.
Obra útil para profissionais de saúde e para todos aqueles que estudam o envelhecimento.
Beja Santos