Fernando Correia, o médico que aconselhava as termas caldenses aos gaseados da I Grande Guerra

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Gazeta das Caldas
Natália Correia Guedes (sobrinha do homenageado), Joana Ribeiro (investigadora sobre a vida e obra de Fernando Correia) e Paula Cândido (directora do Arquivo Municipal de Leiria)
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Houve um médico, caldense por adopção, que aconselhava o tratamento com as águas do Hospital Termal aos soldados gaseados durante a I Guerra Mundial. O seu nome é Fernando da Silva Correia (1893-1966) e, durante o passado dia 22 de Setembro, foi homenageado com um colóquio e uma exposição no Museu Malhoa, organizados pela Associação PH.
Neles foram destacadas várias facetas da vida deste médico, que deixou a sua marca em várias instituições locais e nacionais.
Fernando Correia foi, em 1925, um dos fundadores da Gazeta das Caldas.

Gazeta das Caldas
Uma sala cheia e atenta às revelações sobre a I Grande Guerra

Fernando Correia foi mobilizado para a guerra, em França, em 1918. Partiu como alferes médico miliciano e foi promovido a tenente. Tratou militares e civis nas várias localidades onde esteve. “O próprio comparou esses serviços de medicina com os que administrava aos habitantes das zonas rurais das Caldas da Rainha”, disse a investigadora Joana Beato Ribeiro, na sua intervenção, tendo por base correspondência que o médico trocava com familiares e amigos.
Seguindo o conselho do seu pai, Fernando Correia aproveita a estadia em França para visitar hospitais e estâncias termais como a de Cauterets.

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O jovem médico interessa-se pelas termas e, a 25 de Junho de 1919, publica no Círculo das Caldas a notícia “Tratamento pelas águas das Caldas nos atacados por gazes asfixiantes”. Segundo a historiadora, Fernando Correia mostra conhecer os efeitos desses gases, assim como os tratamentos administrados aos gaseados na estância termal francesa que visitara um ano antes.
O seu principal objectivo era o de, conhecendo as semelhanças existentes entre as águas dessa estância e as das Caldas da Rainha, “chamar a atenção dos gazeados do CEP [Corpo Expedicionários Português] que poderão aproveitar com um tratamento cuidado nas Caldas”, explicou Joana Ribeiro. Entre as várias intervenções, dedicadas à contextualização e ao posicionamento de Portugal na I Guerra Mundial, contou-se com a participação de investigadores do Oeste, de Peniche e da Benedita, que deram a conhecer quantos soldados das suas terras foram mobilizados, assim como era o contexto social e económico da época. Em relação a Peniche, foi dado a conhecer a vida do médico João Bonifácio da Silva (1886-1967) que cursou Medicina com Fernando Correia, tendo tido vários cargos ligados à saúde e à política.

Fotografias documentam conflito

Natália Correia Guedes, a sobrinha de Fernando Correia, que doou o espólio do seu familiar à Associação Património Histórico (PH) não podia estar mais satisfeita com a homenagem ao seu familiar.
“Foi uma surpresa contar com uma adesão tão significativa”, disse a docente universitária, comentando que a sala do Museu Malhoa “esteve completamente cheia”. E se de manhã foram focados os mais variados aspectos relacionados com o contexto político, social e cultural da I Grande Guerra, à tarde falou-se sobretudo da vida deste caldense por adopção.
O médico nasceu no Sabugal, mas os seus pais vieram viver para as Caldas quando este ainda era criança. Antes de ter ido estudar Medicina para Coimbra, Fernando Correia interessou-se por várias áreas culturais da cidade. Nessa altura, as Caldas tinha um grande desenvolvimento cultural. “Na verdade, não havia teclas onde ele não batesse no que diz respeito à cultura”, comentou a sobrinha na sua intervenção onde deu a conhecer que o tio aos 16 anos já actuava no Teatro Pinheiro Chagas.
Mais tarde, Fernando Correia desenvolveu as áreas assistenciais tendo fundado o lactário-creche, no edifício onde funcionou a Infancoop, junto aos SIlos. Foi também director do Hospital de Santo Isidoro e do Balneário das Águas Santas. Mais tarde sai das Caldas para ir dirigir o Instituto Ricardo Jorge. Foi, também, um dos fundadores da Gazeta das Caldas e foi um assíduo colaborador durante toda a sua vida, onde publicou regularmente artigos sobre a Rainha D. Leonor e o Hospital Termal, entre outros temáticas.
“Ele teve uma carreira brilhante”, disse Natália Correia Guedes, salientando que foi igualmente fundador do Instituto de Serviço Social. De qualquer modo, segundo a sobrinha, ele vinha todos os fins de semana às Caldas para visitar a família.
Ao fim da tarde foi inaugurada uma exposição composta por oito núcleos e da qual fazem parte fotografias obtidas pelo médico no último ano do conflito (1919), em França, onde esteve mobilizado desde 1917. Integra também alguns objectos como máscaras de gás, armas e fardas dos combatentes. A mostra, que contempla visitas guiadas para as escolas, vai estar patente até 25 de Novembro.

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