Há dias realizou-se uma iniciativa no CCC digna de registo: uma passagem de modelos em chocolate. Não tendo eu qualquer apetência por passagens de modelos, e muito menos de chocolate, pergunta o leitor porque será tal coisa digna de registo. Explico. O convite era conjunto, dos senhores presidentes dos municípios de Caldas da Rainha e Óbidos, o que é um feito incomum.
Com estratégias locais muitas vezes coincidentes com os limites dos concelhos, com personalidades à frente dos mesmos de costas voltadas (o que era público e notório num passado recente, mas parece estar ultrapassado), com as típicas quezílias de vizinhos, todos perdem. E todos ganham quando a política de desenvolvimento de cada um dos concelhos se insere em espaços mais amplos, abrangendo dois ou mais municípios, ou coincide com a Comunidade intermunicipal ou ainda se junta a outros concelhos, numa geometria que pode variar atendendo ao objeto da cooperação em vista.
O convite conjunto do Fernando Tinta Ferreira e do Humberto Marques – aqui vai uma saudação para ambos –, com vista a este evento pontual, trouxe-me a esperança de que os tempos estejam mesmo a mudar. Que haja e se reforcem iniciativas concertadas quanto à linha do Oeste, ao novo hospital, à Lagoa de Óbidos, à animação turística, à oferta cultural, aos transportes públicos… A maior parte das questões que preocupam os munícipes e os autarcas destes dois concelhos são comuns. Logo, impõem-se ações comuns, impõe-se convergência.
No longínquo ano de 1946, Luís Teixeira, ilustre caldense, presidente da comissão organizadora da biblioteca pública das Caldas da Rainha, em reunião que se realizou no Casino do Parque, a 23 de novembro, pedia para o turismo local uma “nova orientação” e “mais largas perspetivas”. Dizia: “Deve (…) ter por base em vez de ‘só a localidade’, ‘a localidade e a região”. E continuava: “Exige-se, primeiro, bom entendimento entre os organismos dirigentes da ação turística nas localidades abrangidas pelos limites da zona; segundo, a organização de uma propaganda inteligentemente fundamentada na realidade turístico-geográfica; terceiro, conseguir o estabelecimento de uma rede de transportes coletivos apropriada. Quanto às atrações, devia partir-se do princípio de que nada do que se passasse dentro da área da referida zona turística (…) seria estranho aos interesses das Caldas da Rainha nesse campo.”
Passados mais de 70 anos, são surpreendentemente atuais as palavras de Luís Teixeira.
Cristina Rodrigues
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