Nuno Catita
Em janeiro de 2008, o então ministro da saúde, Correia de Campos, anuncia o seu apoio ao estudo de um Hospital Oeste Norte, para servir, fundamentalmente, Nazaré, Alcobaça, Caldas da Rainha, Óbidos, Bombarral e Peniche. Prontamente os autarcas de Alcobaça e de Caldas da Rainha iniciam uma espécie de disputa para puxar a nova Unidade Hospitalar para o seu território. No meio de estudos mais oficiais ou mais oficiosos, o que envolveu a Escola de Gestão do Porto, coordenado por Daniel Bessa, e a pedido do Ministério da Saúde, a zona de Alfeizerão, no concelho de Alcobaça, foi apontada como sendo o local mais apropriado. Enquanto o presidente de Caldas da Rainha, Fernando Costa, contesta as fundamentações da escolha, o edil de Alcobaça, Gonçalves Sapinho, investe 3,5 milhões de euros na aquisição da Quinta da Cela, com 107 mil metros quadrados.
Desde aí até ao momento, foram sendo feitos outros estudos a pedido não só das autarquias como também da OESTECIM e, enquanto se esgrimiram razões, localizações e outras questões, o(s) sucessivos governos(s) optaram por ir fazendo remodelações no Hospital de Caldas da Rainha, no de Torres Vedras, assim como no de Alcobaça, que integra o Centro Hospitalar de Leiria, empurrando para um futuro, quem sabe bem longínquo, o novo hospital, que deixou de ser Hospital Oeste Norte para passar a ser Hospital do Oeste.
O tempo corre rápido e, durante estes 15 anos, o processo ganhou uma tal complexidade que a OESTECIM pediu ao governo que decidisse a localização do novo hospital, baseando-se no último estudo segundo o qual a localização mais acertada seria o concelho do Bombarral. Na sequência desta solicitação, o ministro da saúde, Manuel Pizarro, anunciou a Quinta do Falcão, precisamente no Bombarral, como local a edificar o Hospital do Oeste, dando razão ao estudo da OESTECIM.
Alcobaça e Caldas da Rainha perdem, definitivamente, o “Norte”.
As reações não se fizeram esperar, sobretudo por parte de Caldas da Rainha que, associada a Óbidos, ganha como aliado Rio Maior, que só vê vantagens num novo hospital na zona das Caldas, por ficar mais perto e mais acessível que o de Santarém. A sua população tem feito as mais diversas ações de contestação: marchas lentas, petições e até o envio de dezenas de milhares de postais dirigidos ao governo e ao Presidente da República em defesa do hospital nas Caldas.
A Nazaré abstém-se. Além de vestir as mesmas cores do governo, fica praticamente à mesma distância das Caldas e de Leiria.
Alcobaça agarra-se ao facto de continuar a ser proprietária do terreno que comprou em 2008, e, mesmo percebendo que é uma causa perdida, deixa de tentar defender 70% da sua população, que vive mais próxima das Caldas do que de Leiria.
Naturalmente, e sendo Portugal o país que é, com um governo sobejamente conhecido por nada de estrutural fazer, o assunto vai andar por aí. Primeiro, porque as eleições são daqui a mais de dois anos; segundo, porque o interesse real em fazer o novo hospital é pouco; terceiro, porque todos sabemos que não haverá profissionais de saúde suficientes para a nova unidade.
Possivelmente, e daqui a 15 anos, estaremos também a discutir, para além da localização, o nome do novo hospital. Depois de perder o “NORTE”, pode perder, também, o “Oeste”. A junção de municípios, ou a sua separação, depende das escolhas políticas, que muitas vezes estão totalmente afastadas da História das terras, dos movimentos das populações e das necessidades de quem lá vive. Além disso, abriram-se feridas profundas na OESTECIM e a coesão entre municípios está, inevitavelmente, comprometida.
Quanto a nós, que NÃO NOS FALTE A SAÚDE.