Mais um livrinho de pequeno formato mas de informação imprescindível. De 11 x 17,5 cms, com 24 páginas, mais capas, cosido à mão, da responsabilidade de um grupo de amigos de Rafael Bordalo Pinheiro, foi impresso na tipografia da Companhia Nacional Editora, situado no largo do Conde Barão, nr.º 50. Em Lisboa.
O meu exemplar tem um duplo valor, duplo qual quê!, quíntuplo ou sêxtuplo, pelo menos, porque na primeira página tem um dedicatória autografada de Rafael Bordalo Pinheiro “ ao seu amigo José António de Freitas, o seu amigo muito agradecido”, datada de Lisboa, Outubro de 1899.
Por uma incompatibilidade de ordem temporal Rafael não foi a mim que Rafael dedicou este livro …
Ouçamos qual a opinião destes amigos de Bordalo.
“Dar a esta arte um impulso de revivescência significava reatar a velha tradição, senão quebrada, pelo menos diluída nas sucessivas deformações, na passagem através de gerações de operários pouco inteligentes. Foi o que Rafael Bordalo compreendeu e tratou de pôr em prática, com um êxito plenamente justificado pela vivacidade do seu trabalho e pela exuberância da sua fantasia. As formas, sobre as quais ele quis modelar os seus maravilhosos motivos ornamentais, foram as mesmas consagradas por um uso seculo ininterrupto, os tipos de vasilhame português, derivados da arte mourisca e arábica, das variadas influências do Oriente, da Pérsia, Índia e China, ou longinquamente filiados na arte greco-romana, ou ainda espontaneamente surgidos da imaginação popular, fecundada pelas necessidades do nosso meio. Por outro lado, o eminente artista submeteu à sua fantasia às condições do caracter que desde tempos remotos fôra imprimido à cerâmica Portuguesa, na escolha refletiva dos motivos decorativos. Viram-se rãs, os sapos, as cobras, rojando pelo bojo das bilhas e dos potes, pelo disco espalmado dos grandes pratos, diferenciando-se por um aperfeiçoamento de escultura, um aprimorado gosto artístico na procura de atitudes, da antiga indústria rotineira das Caldas da Rainha. A fauna e a flora marítimas deram um largo contingente para a ornamentação dos mais ricos e deslumbrantes produtos de faiança, para que não esquecesse a nota característica de um povo que, acima de qualquer outro, deu impulso à navegação moderna. Rafael Bordalo ampliou extraordinariamente esta decoração, juntando-lhe algas, moluscos, crustáceos e uma grande variedade de peixes; mas o elemento mais original por ele introduzido na composição decorativa é indubitavelmente a rede, através de cujas malhas delicadas em verdadeiros «tours-de-force» de execução, lampeja a pele argenta da sardinha e do peixe-espada, o dourado e o vermelho doce dos ruivos e dos salmonetes, a crosta esverdeada ou bruma das lagostas e dos caranguejos. Há sob este ponto de vista arrendados prodigiosos, nos quais não se sabe o que admirar de preferência, se a elegante Concepção do artista, se o acabado e perfeito da mão-de-obra.”… Isabel Castanheira