Lembro-me do Padre Joaquim e o que mais prevalece no meu coração é o exemplo

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A nossa Paróquia teve durante 14 anos a graça de ter como Prior um homem que imprimiu marca, o Padre Joaquim da Conceição Duarte. A sua presença, discreta e humilde, zelosa e determinada, nem sempre foi compreendida por todos, mas todos reconheciam no Padre Joaquim a presença dum homem de Deus.
A vida do Cónego Joaquim foi um testemunho maravilhoso de entrega total e fiel à missão que lhe foi confiada.
Nasceu, curiosamente a 1 de Junho de 1935, Dia da Criança, sinal do que nos diz Jesus: “Deixai vir a Mim as criancinhas” e foi ordenado Sacerdote a 15 de Agosto de 1964, tempo de grande significado para a Igreja já que decorria o Concílio Vaticano II (61-65). Viveu e anunciou fervorosamente as ideias nascidas do Espírito do Concílio.
Foi Director Espiritual de grande parte dos Padres do Patriarcado de Lisboa, no qual se incluem Bispos e Cardeais. Foram também muitos, milhares, os jovens que fizeram parte da sua vida, enquanto criador das Assembleias de Jovens, por todo o Patriarcado. Apesar da idade continuava a guardar na memória os rostos e os nomes de muitos, já que não se limitava a passar pela vida de cada um, ia ao seu encontro e guardava-os no coração e na oração.
Fez da sua vida uma oração de encontro com Deus e com os homens. Por isso o “aconchego” de 37 anos a servir o Seminário não foi suficiente, Deus pediu-lhe mais um serviço. Na obediência ao Bispo aceitou ser Prior de Caldas da Rainha, Vidais e Coto. O zelo e a formação que trazia nem sempre foram bem entendidos, mas todos admiravam e reconheciam a seriedade e a fidelidade pastoral.
Nestes últimos anos, em que já estava doente, foi penoso e belo vê-lo. Foi penoso porque se percebiam as dores, o cansaço e o sofrimento; mas foi belo porque líamos, na sua entrega de vida, toda a beleza do “mais belo dos homens” que, para as pessoas de fé, é Jesus. Partiu para a Casa do Pai, no dia 7 de Setembro, configurado com Cristo na Cruz por amor à Humanidade.
Nesta Paróquia deixou memórias e gratidão. Ficam alguns testemunhos de jovens, que com ele caminharam ao longo de alguns anos e que escolheram dar ao seu grupo o nome de “Joaquinistas”, mas que certamente será a opinião de muitos outros que o conheceram bem.

“Lembro-me do Padre Joaquim e o que mais prevalece no meu coração é o exemplo.
Era exemplo de S. José na humildade, no servir sem cessar e sem se fazer notar. Fazia tudo o que podia, mas sobretudo estava no que fazia, sem nunca esperar que lhe retribuíssem o que oferecia todos os dias. Servia com alegria, com o entusiasmo de quem fazia da sua vida uma adoração constante a Cristo.
Sempre com uma postura muito atenta e exigente coberto num manto silencioso, muito próprio de Nossa Senhora. Características, estas tantas vezes incompreendidas por mim, contudo, depressa percebi que esta rigidez era fruto do amor de quem me queria tao mais santa quanto aquilo que eu podia ser e Nosso Senhor me permitisse. Afinal, um vaso não se molda com sopros leves, toma forma com as implacáveis mãos trabalhadoras.
Sempre fiel ao exemplo da Virgem, tinha um coração que jorrava misericórdia de cada vez que eu não entendia e preferia manter o pedaço de barro intocável, como se soubesse que eu um dia iria perceber, nunca desistiu de se manter firme e fazer de mim vertebrada na Fé.
Quantas vezes, no meu emaranhado de preocupações mundanas, nas minhas lamentações ingratas me recordo do Padre Joaquim, a percorrer com dificuldade toda a assembleia e a subir as escadas em direção ao altar. Com o esforço de quem carrega a Cruz de Cristo, com sede de se tornar rosto d’Ele em cada Eucaristia. E que exemplo, Senhor, nunca desistiu de forçar o corpo nos degraus e oferecer as dores em graças para todos aqueles que dos bancos da igreja o ouviam. Este amor sem medida de quem completava a Paixão de Jesus no seu próprio corpo. E a força com que subia as escadas, era a mesma com que segurava o sorriso.
Sabia-se incompreendido por muitos, mas amado por Cristo e isto só lhe chegava.
Hoje sou eu que lhe peço a graça de ser fiel ao seu exemplo, humildade e prontidão, exigência e misericórdia, e a alegria de carregar a cruz e entrega-la por amor todos os dias”.
Beatriz Feliciano