No momento em que escrevemos esta crónica todos os estudantes do ensino superior de Montreal estão de «férias». Apesar da provincia do Québec apresentar os mais baixos custos globais de formação universitária na América do Norte, as direcções das associações estudantis das diferentes universidades e CEGEP s (o equivalente quebequense dos Institutos Politécnicos portugueses), conseguiram um mandato inequívoco de greve geral, pois é disso que se trata, por periodo indeterminado. Quando nos referimos a custos globais de ensino incluímos aqui, não só as propinas, como as despesas de alojamento para os que têm de mudar de residência por causa dos estudos. A razão invocada para esta greve de 2012, prende-se com a decisão do governo provincial ter decretado um aumento de 1625.00 dólares canadianos a implementar gradualmente durante os próximos 5 anos. Mas na realidade, este aumento acaba apenas por se aplicar aos alunos das universidades pois o ensino nos CEGEP (Colégios de Ensino GEral e Profissional) é, e continuará a ser, práticamente gratuito. Apenas são penalizados com uma propina simbólica de algumas centenas de dólares, os alunos repetentes.
As greves de hoje, ao contrário de todas as greves em que participámos, numa altura em que direitos elementares, como o direito de opinião e de associação nos eram sonegados no obscurantismo do Portugal de antes de Abril de 1974, são de carácter puramente economicista. No nosso tempo lutávmos por ideais. Não nos recordamos de alguma vez termos visto nas nossas manifestações estudantis, exigências de carácter económico ou financeiro.
Os jovens da nossa geração queriam mudar o Mundo, sobretudo o mundo cinzento dos portugueses. Os jovens de hoje lutam por questões monetárias. A qualidade do ensino que lhes é ministrado, ou a falta dela, é aparentemente a última das suas preocupações.
Em plena greve, e enquanto todos os meios de comunicação, seguem a par e passo os movimentos dos estudantes nas ruas da cidade, um estudo que coloca Montreal no décimo lugar das melhores cidades universitárias do planeta, passou praticamente despercebido. Atrás de Montreal ficaram cidades importantes como, Barcelona, Tóquio, Nova Iorque ou Amesterdão. Em termos de América do Norte, Montreal obtém um honroso segundo lugar, logo a seguir a Boston com o seu conceituado, Massachusetts Institute of Technology (MIT), e em termos Canadianos a nossa cidade classificou-se em primeiro lugar, à frente de Toronto no vigésimo sexto lugar da lista, e de Vancouver (a cidade do ministro Álvaro) no trigésimo primeiro. Numa rápida observação desta lista, salta à vista que as cidades com escolas de valor reconhecido no ensino das tecnologias de ponta, obtiveram os lugares cimeiros. São sobretudo estas, que podem criar riqueza e emprego.
Esta pesquisa foi efectuada recentemente pela empresa britânica QS, sobre a classificação das Melhores Cidades Estudantis do Mundo em 2012 (Best Student Cities in the World). Em Montreal, a existência da conceituada universidade anglófona McGill, ou a Université de Montreal, com a sua escola de engenharia agregada, École Polytechnique de Montréal, que se dedica única e exclusivamente ao ensino das engenharias, são seguramente a razão da classificação de Montreal no grupo das melhores cidades universitárias do Globo. Foi tida em consideração igualmente a qualidade e o custo de vida na cidade, e o número de estudantes internacionais que procuram as nossas escolas. No ano de 2010 havia mais de 21800 alunos estrangeiros em Montreal. Relativamente a 2004, representa um acréscimo de 30% .
No sentido de apoiar a instalação inicial dos estudantes estrangeiros em Montreal, o potencial interessado ou interessada, pode, através do site www.etudieramontreal.com, e a partir do seu país de origem obter o máximo de informações sobre a grande metrópole quebequense. Uma vez chegados à nossa cidade, aqueles que a solicitam, têm ainda, logo à saída do avião, uma estrutura de apoio que os guia nos primeiros passos, numa sociedade nova e diferente daquilo a que estão habituados.
Depois, e, se a intenção de estadia é realmente séria e não se limita apenas a mais um passeio, por entre os muitos passeios que os jovens de hoje fazem, o futuro da maioria dos que optam por se estabelecer neste grande país que é o Canadá, será certamente risonho. É que, apesar da crise que assola a maioria dos países da velha Europa, e que não parece ter fim, a existência, na imensidão dos amplos espaços da Província de Québec duma população ainda inferior a 8 milhões de habitantes, que beneficiam dum PIB per capita superior a 38000.00 dólares, ao lado de multinacionais como a Bombardier (terceiro fabricante mundial de aviões, logo depois da Boeing e da Airbus, e primeiro produtor mundial de material ferroviário), ou como a CAE, lider na concepção e fabrico de simuladores de voo para os grandes jactos intercontinentais ou, noutro ramo de actividade, do grupo informático CGI, um dos maiores empregadores da América do Norte no sector das Tecnologias de Informação, ou ainda de inúmeras pequenas e médias empresas de capitais públicos (cotados em Bolsa, note-se, nada a ver com Estado) e privados, nos ramos de Multimédia e Audiovisual, são o garante de empregabilidade dos diplomados nos diversos ramos de engenharia ou em qualquer das áreas que mencionámos. No entanto, muitos e muitas jovens há, que, com a chegada dos primeiros frios de Dezembro voltam aos países de origem. Infelizmente lidamos com eles mais do que seria expectável. Pensamos no entanto que o resultado final justificava o esforço inicial de adaptação. É claro que não estou a pensar nos que, nas redes sociais, e ao verem o nosso clima, repetem a quem os quer ouvir:
– isso é frio de mais para mim.
Para terminar e como mera informação, um recém formado por uma qualquer faculdade de engenharia informática de Montreal, inicia actualmente a sua vida activa com um salário bruto anual de cerca de cinquenta mil dólares canadianos, e é por isso que, voltando ao tema inicial desta crónica e considerando estes valores, achamos ridículos os motivos invocados para a actual greve. Um aumento das propinas universitárias de cerca de 1625.00 dolares canadianos, faseadamente, nos próximos cinco anos.
J.L. Reboleira Alexandre