Isabel Xavier
Presidente do PH e investigadora sobre História Local
As décadas de 20 e 30 do século XX foram particularmente profícuas em iniciativas nas Caldas da Rainha. Não por acaso foi nesse período que Caldas foi elevada à categoria de cidade (agosto de 1927). Viveu-se uma conjuntura de afirmação de uma jovem elite política, que transitará da I República para a Ditadura Militar e desta para o Estado Novo, e que será protagonista de uma nova visão para a vila/cidade das Caldas da Rainha, no âmbito do Regionalismo emergente.
Destacam-se nomes como o de António Montês, denominador comum dos vários projetos em curso, e o de Júlio Lopes, que veio a ser presidente da Câmara Municipal entre 1934 e 1945. A ideia forte era aproveitar figuras históricas de relevo nacional que estivessem ligadas à história das Caldas, com destaque para a rainha D. Leonor, e usá-las para a divulgação da vila/cidade, tornando-a mais apelativa e interessante. A ação começou a delinear-se a partir da Associação Comercial e Industrial, cuja direção integravam, em dezembro de 1924, quando encomendaram uma tela a José Malhoa. Esta viria a representar a rainha, no célebre retrato que foi o embrião do Museu de Artes, que adotou o nome do pintor.
Na sequência das comemorações do quarto centenário da sua morte, em 1925, surgiu a proposta de construir um monumento à rainha. A Gazeta das Caldas, publicada regularmente desde esse ano, encarregou-se de divulgar o projeto, afirmando ser o primeiro jornal a abrir uma subscrição pública, sob o impulso de António Montês, em maio de 1927.
O Monumento levantou polémica quanto à respetiva localização. Havia quem defendesse o Largo da Copa, junto ao Hospital Termal; quem defendesse a Praça da República e quem, como o arquiteto Paulino Montês, considerasse a zona do Borlão como a mais adequada. Venceu o Largo Conde Fontalva, junto do parque, zona de passagem obrigatória para quem visitava as Caldas e para quem circulava pela estrada Lisboa-Porto.
Mas a polémica maior ocorreu a propósito do concurso de maquetas lançado pela Comissão do Monumento. As sete maquetas que responderam ao concurso estiveram expostas no salão do Clube de recreio e o Júri que as apreciou era composto por representantes da Comissão do Monumento, artistas da Sociedade de Belas Artes e membros da Câmara Municipal. A propósito da decisão tomada, é dito na Gazeta de 25 de maio de 1930: “Foi prolongada a reunião do júri, que depois de apreciar devidamente as ‘maquettes’ e de ler as memórias descritivas e os orçamentos apresentados pelos vários autores, reconhecem não haver nos trabalhos expostos nenhum que interpretasse convenientemente a figura majestosa da fundadora das Caldas”. Assim, foram atribuídos apenas os segundo e terceiro lugares, respetivamente, aos escultores Maximiano Alves e Rui Gameiro. A contestação ficou plasmada nos jornais nacionais, havendo até caricaturas representando a maqueta de Maximiano Sousa a ser retirada do pedestal. A Comissão convidou expressamente Francisco Franco, que foi o escultor do monumento, coadjuvado pelo arquiteto Cristino da Silva. O monumento foi inaugurado a 15 de setembro de 1935. As celebrações foram alvo de reportagens de primeira página em todos jornais nacionais de referência, e contaram com a presença do Presidente da República, General Óscar Carmona, de membros do governo, do Cardeal Patriarca de Lisboa e de muitos populares que encheram o largo conde Fontalva e participaram nas festas, no parque, que se prolongaram pela noite. A atriz Amélia Rey Colaço fez de rainha na representação que ocorreu nos jardins Martins Pereira e foi ovacionada pelo público, quando assomou a uma das janelas do Hospital Termal. ■