Alberto Costa
advogado

Uma empresa do top 10 nacional «consome» meses para assumir a responsabilidade (que lhe pertence) de proceder à deslocação de um poste de betão agora no meio da estrada, causando os constrangimentos e riscos que se imaginam a pessoas e veículos. Concede-se sessenta dias úteis para o fazer – ou seja: mais de dois meses e meio. Várias semanas depois esse prazo ter decorrido, a execução dá os primeiros sinais e vai avançando por fases sucessivas, distanciadas umas das outras por dias, ou mesmo semanas. De tal forma que, muitos meses depois do início do episódio, observava-se estar ainda pendente a operação final: justamente a retirada do poste!
Aconteceu no Oeste – mas podia acontecer igual por esse país fora. Fala-se bastante de morosidade a respeito do funcionamento da justiça, mas falamos pouco das manifestações desse fenómeno noutros domínios não menos presentes no nosso dia a dia.
É imenso o tempo que globalmente perdemos por culpa de muitos agentes, de maior ou menor envergadura – e que, tudo somado, ajudam a explicar uma boa percentagem da nossa pesada «quantidade de tempo injustificadamente perdido». Para além dos sempre referidos serviços públicos (alguns dos quais, é preciso dizê-lo, conheceram em anos recentes medidas históricas de simplificação e desburocratização), entes locais, empresas, profissionais, instituições de diversas áreas ilustram-nos no quotidiano as cem maneiras de perder&fazer perder tempo. O prazo que não é razoável ou nem se fixa; o compromisso e o prazo que são assumidos e não são cumpridos; a reunião que não é à hora acordada, as dificuldades de que se rodeia a comunicação ou a falta dela, o atraso na reparação de falhas e anomalias, mesmo depois de reconhecida a responsabilidade – tudo isso representa morosidade.
E não falamos agora na distância temporal que normalmente vai entre atingir um resultado «em circuito de proximidade» e fazê-lo em «circuito normal», revelando quase sempre que este último incorpora uma margem abusiva de desperdício de tempo…
Dir-se-á que, pelo menos no âmbito da economia, os «agentes morosos» acabam por ser penalizados e têm já, portanto, os incentivos adequados para o não ser. Na realidade, mesmo nessa esfera, deparamos com frequentes posições de vantagem ou mesmo domínio/dependência, situações de quase monopólio, assimetrias, segmentações em coutadas e nichos de vária proveniência e vários outros factores capazes de contrariar o efeito de tais incentivos com outros aliciantes. Além disso, muitas desses agentes, coletivos e individuais, são lestos a transferir os custos da perdas de tempo para os outros, diminuindo-as «no seu quintal». As morosidades acabam por ser passadas para os preços que pagamos, como se incluíssem uma «sobretaxa de morosidade» que pagamos sem nos darmos conta.
É agora frequente encontrar na região, e em particular na Foz, pessoas de diferentes nacionalidades que aqui têm residência. Dos que provêm de países menos atingidos por este flagelo, ouvimos por vezes observações sobre especiais factores de morosidade com que aqui têm deparado. Escutá-los pode ser útil, em particular para quem detenha responsabilidades
Quando debatemos regiões e países que vão «mais depressa» ou vão «mais devagar» deveríamos incorporar este elemento como vamos de morosidade? – e não deixá-lo apenas para um ou outro setor, convencionalmente instituído em bode expiatório. ■