Celeste Afonso
diretora cultural executiva
Em Março, mulheres e organizações de todo o mundo celebram os direitos conquistados e chamam a atenção para a discriminação e para a violência a que as mulheres ainda estão sujeitas apenas por serem mulheres. Segundo O relatório Mulheres, Empresas e a Lei de 2024 do Banco Mundial e o Relatório de 2024 da Igualdade de Género na União Europeia, apesar de algumas conquistas assistimos a retrocessos.
Relendo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o conjunto de metas a alcançar até 2030, o ODS 5 – Igualdade de Género – afigura-se utópico e percebemos que o mundo está a falhar com as mulheres e as raparigas.
Em Portugal, ao compararmos direitos e oportunidades entre homens e mulheres, os indicadores traduzem que há um longo caminho ainda a percorrer. As mulheres ganham menos 17% do que os homens, têm pior qualidade de vida, continuam sobrecarregadas com as tarefas domésticas e continuam a ter uma baixa representatividade em cargos de poder. A violência contra as mulheres, o feminicídio, a mutilação genital feminina, continuam a aumentar…
Este ano, o mês de Março foi também mês de campanha eleitoral e de eleições legislativas. Os senhores políticos aproveitaram o dia 8 para oferecerem flores às mulheres. Perante a discriminação e a violência, o que os senhores políticos nos oferecem é flores! E maridos e namorados e amantes e amigos oferecem flores e chocolates e perfumes e batons e vouchers para SPA…
Consequentemente, só poderíamos ter uma Assembleia da República com o pior índice de representação feminina dos últimos 10 anos. Apesar da Lei Orgânica n.º 1/2019, de 29 de março, ter aumentado a representação mínima exigida para cada sexo nas listas de candidaturas de 33,3% para 40%, ficámo-nos pelos 33,6%! E dos 17 ministros do XXIV Governo Constitucional apenas 7 são mulheres!
Citando o Rodrigo Tavares, “Precisamos de mais mulheres no Parlamento que contribuam para a diversificação da agenda legislativa e a apresentação de novas perspetivas e experiências para o processo legislativo. Além disso, a presença de mais mulheres no parlamento pode inspirar outras mulheres a se envolverem na política e fortalecer a democracia.” (Expresso, 28 de Março)
Por tudo isto, no dia 8 de Março, no mês de Março e em todos os dias do ano, não queremos flores. Queremos direitos assegurados, equidade de oportunidades, segurança e justiça.
Cada vez que um homem me oferece uma flor no dia 8 de Março, sinto o insulto à dignidade humana e percebo que são necessárias muitas vozes para gritar, dizer ou cantar esta luta que é minha, é tua e é nossa. Por nós e por todas aquelas que não têm voz. ■