Narciso ao espelho

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Era para titular esta nota com o título “Uma Comissão para acabar com a linha do Oeste”, mas o facto de haver, pelo menos nesta reunião a que assisti [no passado dia 22 de Abril], algum inocente ou crente que o tema era o inverso leva-me a colocar esse título mais condizente. Tenho que dizer que não intervim. Fazia tensão de contar uma estória. A dos inícios e das razões da elaboração, cheia de deficiências das linhas de caminho de ferro nacionais, no século XIX, da guerra, que teve fortes repercussões no parlamento, émulo do actual certamente, entre os defensores das diligências e os comboistas. Os compromissos e a falta de visão que então marcaram o compromisso. Que são idênticas às que imperam hoje, por esta comissão, nesta reunião de papagaios falantes. Não intervim porque o tema não era a salvação ou sequer a continuidade desta importante estrutura de transportes, de passageiros e mercadorias, mas  sim o ego de cada um dos personagens, salvo um ou outro que deu algum contributo útil, que estavam lá em “busca de Godot”, ou seja para se ouvirem e verem ao espelho. Não houve nenhum contributo com algum significado ou potencial de contribuir para uma resolução deste nó górdio do sistema ferroviário nacional. Aliás pergunto-me mesmo qual o objectivo desta reunião…. Uma senhora do Verde disse umas inanidades, o deputado do PCP atirou dinheiro, que obviamente deveria ter retorno, para cima da rede, sem a mínima preocupação com a recuperação do investimento ou a ocupação que a linha ferroviária terá, teria, depois de ele espatifar os recursos públicos, o deputado do Bloco, não imagina a articulação entre os diversos sistemas de transportes nem novos meios de utilização da ferrovia, o do PS, bom, foi tipo “maria vai com as outras”, repetiu os ditos, nulo, todos nulos. Pensar que a Câmara das Caldas encomendou um excelente estudo ao Eng. Nelson Oliveira sobre a ligação e interligações que deveria ser base para desenvolvimento de formas e projectos de redinamizar a linha do Oeste …foi chão que deu uvas. Ainda houve um deputado municipal que chamou a atenção para a necessidade de um pensamento global sobre este tema, pensamento esse, digo eu, que terá que articular a ferrovia, com o sistema viário, onde se tem que discutir a questão das mercadorias e o portejamento, e o sistema portuário e polos de concentração de veículos. Terá que se discutir horários e articulações nodais com outros sistemas de transporte, articular os tempos de transporte, investir noutras carruagens e na electrificação, equacionar mudanças na lógica de circulação, tudo de uma forma integrada. Terá que se enquadrar isto tudo, que não foi sequer abordado com políticas nacionais e inclusive com alterações do paradigma do sistema de transportes. Mas esta reunião era uma reunião para mestres cantores, todos a ler uma pauta, sendo que desconhecem a realidade que essa sim  faz música. Tcu, tchu. Devo dizer, não vá que depois das 23h45 a que saí para ir à inauguração de um presuntivo, presuntivo mesmo, bar de Jazz, que os que poderão ter intervindo depois dessa hora não estão aqui considerados.
António Eloy