Novo Hospital – II

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Há poucos dias assisti, num Congresso médico, a uma conferência dum brilhante professor de Economia da Universidade Nova, com o título: “Não há dinheiro?” O Professor Nadim Habib pretendeu defender a tese de que o dinheiro disponível para a Saúde poderia ser suficiente se houvesse maior eficiência. E essa eficiência passaria por corresponder às necessidades, expectativas, satisfação dos clientes: os doentes. Falando de eficiência lembrou que os trabalhadores portugueses, no geral, trabalham mais horas que os trabalhadores alemães (1850 horas/ano e 1350 horas/, respetivamente), têm menos feriados e menos dias de férias.
No sector da Saúde, lembrou que o SNS realiza cerca de 50 milhões de consultas/ano e que há mais de 7 milhões de episódios de urgência. Porque se consomem tantas consultas? Porque se recorre tanto aos Serviços de Urgência? Por ineficiência do sistema, na sua opinião.
A ideia transmitida foi a de que precisaríamos de maior organização e não de mais equipamentos de saúde.
Neste enquadramento, podemos lembrar também que o atual Quadro Comunitário de apoio pretendeu privilegiar a competitividade, a inclusão social e o capital humano em detrimento de estruturas físicas. Sim, bem sabemos que não nos faltam autoestradas e que por esse país fora há equipamentos públicos (pavilhões, piscinas, edifícios vários) subaproveitados, que apareceram sem planeamento e sem definição de prioridades. Mas o que é facto é que o investimento público tem descido e na área dos Cuidados hospitalares há regiões, como o Oeste, particularmente carenciadas em termos de equipamentos. O Oeste precisa de um Hospital novo, devidamente programado e planificado. Não podemos continuar com esta desagregação: cuidados de Ortopedia centrados num polo e um pouquinho de Ortopedia no outro; cuidados de Ginecologia centrados num lado e um pouco no outro; cuidados de Pneumolologia maioritariamente ali e um pouco aqui; cuidados de Pediatria predominantemente aqui e um pouco ali; Gastrenterologia cá e um pouco lá. Cuidados intensivos em lado nenhum. Três urgências abertas (duas médico-cirurgicas e uma básica) a esgotarem permanentemente os recursos humanos médicos.
Como se resolve esta situação com racionalidade? Com um único Hospital para todo o Oeste.
É crível que o próximo Quadro Comunitário de apoio não exclua investimentos em equipamentos públicos bem fundamentados.
Numa lógica da racionalidade de gestão dos meios em Saúde deve manter-se a linha de investimento nos Cuidados Primários, que não podem ser uma mera porta de entrada no sistema. As Unidades de Saúde Familiar foram e são um bom caminho. O investimento nos Cuidados Primários deveria ter já acontecido há 30 ou 40 anos, evitando a atual organização demasiado “hospitalocêntrica”. O especialista em Medicina Geral e Familiar, não pode ser o polícia sinaleiro de mero reencaminhamento do “tráfego” clínico. Deve-se, a esse nível, privilegiar o acesso, a disponibilidade, a facilidade de marcação de consultas por diferentes vias. E é claro que os Centros de Saúde devem dispor de equipamentos básicos de diagnóstico.
A racionalidade desejada – melhor gestão dos meios técnicos e organizativos para cuidar da Saúde das populações, não colide com a extrema necessidade de uma nova estrutura hospitalar para a Região.
É preciso mobilizar as populações para esse desiderato, unificar o Oeste, conjugar vontades.
Neste contexto, é com sentido de oportunidade que surge a iniciativa do Conselho da Cidade – Associação para a Cidadania, de refletir sobre essa solução em debate que ocorrerá no próximo dia 26 no CCC.

António Curado
curado.a@gmail.com

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