O cachecol do artista – Caminhando

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Abre hoje a XV edição do Festival Internacional de Chocolate de Óbidos, um evento que se reinventa a cada edição. As novidades são muitas: a vertente artística foi reforçada e além das habituais esculturas, apresentam-se um conjunto de serigrafias e os figurinos e assessórios, da equipa do Chef Paulo Santos, apresentados na Passagem de Modelos com Chocolate, que este ano se realizou pela primeira vez antes da abertura do evento. O Chef Abner Ivan, que veio do Brasil para formar e coordenar uma equipa de pasteleiros, responsável pelas das esculturas, estará a trabalhar ao vivo ao longo dos quatro fins-de-semana, até dia 2 de Abril. Mesmo ao lado encontramos Rita Frutuoso a demonstrar como se trabalha o chocolate em roda de oleiro. Mas as novidades, numa edição subordinada ao tema da música não se ficam por aqui. O evento está mais vocacionado para as famílias com o espaço “Family Cooking”. Com dois palcos a funcionar em simultâneo o visitante encontrará uma extensa programação de Show-Cooking num e demonstrações de Bar e Cocktaills noutro, intercalando no segundo com pequenos concertos. Entre quase 50 pontos de venda, de marcas vintage ou globais a pequenos artesãos e start-ups do chocolate, é possível fazer fotografias impressas em tabletes no momento ou encontrar decalques em pirolitos com uma interactividade semelhante ao Pokemon-Go. Tudo isto começa com uma parede de chocolate à entrada do evento de onde sai uma figura tridimensional, em chocolate – imagine-se, que dá as boas vindas ao visitante.

Mas esta edição teve o seu início e apresentação há uma semana, no sábado passado, com a Passagem de Modelos em Chocolate no CCC, nas Caldas da Rainha. Este momento, a primeira vez que o Festival de Chocolate sai do concelho de Óbidos, supera simbolicamente em importância o próprio Festival. Isto acontece por ser, finalmente, o momento em que as Câmaras de Óbidos e das Caldas concretizam algo em conjunto e vão além dos discursos de circunstância. Espera-se agora que não se fiquem por aqui. Estou muito à vontade para falar nisto, confessando desde já o meu orgulho pessoal, enquanto coordenador do Festival Internacional de Chocolate de Óbidos, por ficar assim ligado a este primeiro passo. Defendo há muitos anos que as duas Câmaras devem cooperar e ter projectos em comum, onde se inclui sem dúvida a gestão conjunta de um projecto de dragagem permanente da Lagoa de Óbidos. Uma hipótese muito remota em 2009, quando a defendemos pela primeira vez, mas que o director da APA – Agência Portuguesa do Ambiente reconheceu, na sua última presença na Foz do Arelho, há poucos meses, como provavelmente a mais viável e mais sustentável para o problema do assoreamento da Lagoa. O principal problema que estes dois municípios partilham e que só em conjunto pode ter o desfecho positivo, que as populações de ambos os lados desejam. No ambiente, como na promoção turística, ou na agricultura e nas novas tecnologias, há que potenciar sinergias e ganhar escala. Óbidos deve fazer mais coisas em Caldas, como Caldas se deve aproximar de Óbidos e aproveitar melhor a visibilidade desta boa vizinhança. Todas as manhãs, quando me dirijo a Óbidos para mais um dia de trabalho, me cruzo nestes curtos 5 Km com muitos Obidenses que vêm para Caldas fazer o seu dia de trabalho. Os caldense gostam tanto de Óbidos, do seu charme antigo, como os Obidenses de vir às compras às Caldas. O caminho faz-se caminhando, como definiu António Machado: Caldas e Óbidos não podiam ficar-se por um simbólico passeio de bateira em tempos de campanha eleitoral. O primeiro passo está dado. E uma oposição credível não se pode ficar só pela maledicência. Ter legitimidade para criticar é também saber reconhecer quando são dados passos positivos. As populações e a qualidade da nossa democracia agradecem.