OLHAR E VER

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Ana Pacheco
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Os esqueletos na cidade

Olá!
Na minha primeira crónica chamei às Caldas da Rainha “bela terra de contrastes”.
Senti bem isso no dia 20 de Janeiro ao subir para o CCC – Centro Cultural de Congressos onde tive o prazer de assistir a um óptimo concerto de Orquestra Sinfónica Portuguesa com a maestrina Joana Carneiro.
Primou pela qualidade: desde a dos compositores  (Nuno Roda e Ludwig van Beethoven, à Orquestra ao som e à sala do CCC inaugurada há quase 10 anos (Maio 2008) .
Ao lado o esqueleto do empreendimento que não chegou a ser, ainda que tenha cumprido, através de venda do terreno pela CMCR (falou-se à data em  3,5 milhões de euros), o objectivo de cofinanciar a construção deste equipamento cultural evitando endividamento futuro.
Gazeta das CaldasE agora?
O esqueleto está a venda na net por 6,5 milhões de euros.
Será a estrutura aproveitável? E se não se conseguir vender?
Há mercado para mais M2 de lojas e habitação no centro da cidade?
Há casos de maiores feridas na cidade, como as ruinas de ex-instalações industriais, embora sejam propriedades privadas, hoje praticamente todas pertencentes a bancos em consequência de falências.
Creio que a autarquia devia ser mais ativa e insistente numa solução em tempo útil, incentivando os vendedores a condições muito aliciantes, imaginativas, eventualmente em aliança com objectivos de edilidade.
Só assim se  conseguirá dar solução e vida a estas feridas que desmoralizam pela permanência.
Os Bancos vão limpando o seus balanços de forma mais ou menos imaginativa.
É a cidade que é mais prejudicada, na qualidade de vida dos seu habitantes e na sua capacidade para atrair pessoas,  competências e investimento e criar valor e desenvolvimento.
E as ruínas de fabricas  não podem deixar de me levar aos 70 anos de SECLA celebrados a titulo póstumo com depoimentos pessoais de ex-colaboradores que confirmam o que é sabido: A SECLA foi uma grande empresa europeia com práticas de inovação técnica e responsabilidade social exemplares.
Excluindo casos de catástrofes  naturais, uma grande empresa não morre de repente – vai morrendo a pouco e pouco, muitas vezes com várias oportunidades nesse  percurso, para mudar, inverter a queda, tomar decisões  necessárias que  implicam  coragem.
lembro-me bem  do tristemente discreto fim da SECLA, também em 2008 (mais um contraste…) que confesso, nunca percebi  bem.
Rápidos acordos com os trabalhadores e encerramento.
Entra em cena o Fundo de Desemprego e o Fundo de Garantia Salarial para resolver a  questão financeira com os trabalhadores e caso arrumado….
Será?
Dez  anos depois ainda as ruínas no coração da cidade e na zona industrial – no percurso entre ambos oportunidade para usufruir da beleza com que a natureza brindou a terra… o que remete para o inicio desta crónica: os contrastes.
Como tudo o que  vale a pena é um trabalho exigente, criativo e de persistência, a procura sem fronteiras  (geográficas e mentais) de soluções que dêm  vida e sustentabilidade ao que hoje são ruínas ou quase ruínas, ainda possíveis de resolver.  Se este trabalho for aliado à disponibilidade de apoios comunitários, auguro  sucesso.
A qualidade envolvente e o futuro da Região Oeste como um bloco desenvolvido, merecem o esforço e são o maior desafio!

Ana Maria Pacheco
ana.maria@airo.pt

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