Os jogos de futebol atrás dos quintais em frente à casa do Luís

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José Santos
professor
No tempo dos meus avós, saíamos da Escola Primária n.º1 ou n.º2, consoante o ano que frequentássemos e íamos a pé para casa dos nossos avós e / ou pais. Depois disso, à pressa enfiávamos uma fatia de pão caseiro pela boca abaixo, acompanhada de um copo de leite, fazíamos as tabuadas e as contas de dividir e saíamos disparados até à hora do jantar para ir jogar à bola em frente à casa do Luís.
Esse ritual repetia-se com ligeiras alterações, umas vezes íamos vasculhar o convento, outras esmiuçar as grutas do Catelão, outras ainda íamos “pedir emprestadas” umas uvas às vinhas do Gama ou do Pinto Basto.
Mas havia sempre um denominador comum, passávamos sempre por casa para ir comer um lagarto da Dona Amélia e receber aquele limpar de lábios com a ponta do avental. Mais tarde, já mais velhos, o almoço em casa da Dona Hermínia também era uma animação, não só para mim, mas para os colegas que se convidavam para ir comer uma costeleta digna de estrelas Michelin.
Se por um lado nos mimavam e nos faziam sentir principezinhos encantados, por outro lado também nos chamavam à atenção para o que fazíamos de errado.
Hoje já poucos são os afortunados a poderem vivenciar estas memórias de outros tempos. Já poucos podem ser chamados para jantar após uma peladinha no campo da bola improvisado atrás dos quintais. Já ninguém brinca na rua, já ninguém anda sozinho ou atravessa a cidade ao lusco-fusco aos pontapés a uma lata.
No entanto, a escola, assumiu esses papéis, bem ou mal, a escola foi-se reinventando e alargando a sua esfera de influência. Sempre tivemos uma e várias Donas Amélias e Hermínias. As nossas funcionárias e funcionários, professores e professoras, Diretores e Diretoras adotam todos os dias os nossos meninos como seus. Limpam-lhes os joelhos, os lábios, porque lá no fundo, também elas sentem a falta daquele roçagar do avental, daquele pãozinho com manteiga que lhes fazia o dia.
E é por isto, que a escola é um ecossistema complexo e completo, sempre em evolução, adapta-se e reinventa-se, tendo sempre como objetivo final a felicidade dos alunos, o bem-estar dos mesmos, o proporcionar-lhes aquilo que a sociedade não consegue, seja por falta de tempo, seja por qualquer outra razão. A escola é atenta e preocupada, é proactiva quando se trata dos seus alunos.
Agora, nós que tivemos tudo, não nos devemos esquecer do que passámos e devemos deixar que os nossos alunos tenham um vislumbre da nossa “bela infância”, sem julgar, sem criticar, apenas a apoiar quem com eles se preocupa. ■
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