Num mundo cada vez mais complexo, em que os valores humanistas tentam ser derrubados por quem apenas se move pelo ódio e intolerância religiosa, importa afirmar com cada vez mais convicção que a democracia, a solidariedade e os direitos humanos se impõem pela sua superioridade moral e não pela superioridade das armas.
A Europa, e bem, decidiu acolher os refugiados que fogem da barbárie do Médio Oriente e do Norte de África. Na verdade, o direito internacional a que a maioria dos Estados europeus estão vinculados a isso os obrigava. Portugal, e as Caldas da Rainha em particular, rapidamente se chegaram à linha da frente na procura de soluções para a vaga de refugiados que caminha para a Europa. Convém recordar que as Caldas ganharam muito, social e culturalmente, com os refugiados que se instalaram aqui durante a segunda Grande Guerra. Tenhamos a capacidade de fazer o mesmo agora.
Dirão alguns que desta vez é diferente, por não se tratarem de europeus, por terem uma cultura diferente ou por não se adaptarem aos nossos costumes. Também neste ponto a história é boa conselheira. Se Portugal conseguiu ser pioneiro nas descobertas marítimas, muito ficou a dever à aprendizagem feita junto de mouros e árabes. Nessa Época das Descobertas, Portugal interagiu com culturas muito diferentes e deu novos mundos ao Mundo. Não tivemos medo então e não podemos ter medo agora.
O medo é a grande arma destes terroristas. Cabe-nos a nós desarmá-los. Quando a propaganda do Estado Islâmico tenta convencer os europeus de que os terroristas estão a entrar na Europa disfarçados de refugiados, fica a pergunta no ar: se fosse verdade, porque é que eles o diriam? A resposta é óbvia: para o Estado Islâmico, o melhor que poderia acontecer era a Europa fechar as fronteiras com medo e não ter capacidade de integrar os refugiados pois, assim, ficariam com uma enorme massa humana de angustiados, esfomeados e revoltados com a Europa para, de entre eles, poderem recrutar novos terroristas.
Parabéns à Câmara das Caldas e a todas as instituições que compõem a rede social por receberem as famílias de refugiados. Saibam os caldenses agora integrá-los e fazê-los sentir em casa, apesar de longe de casa. E quando nos sentirmos apreensivos e receosos por nos lembrarmos dos ataques terroristas, nomeadamente dos de Paris, lembremo-nos que é exatamente dessa barbárie quotidiana que eles fogem.
PS – Para os leitores que, ao lerem o título desta crónica, pensavam que a mesma iria abordar a tomada do poder por parte de António Costa e do seu séquito, convém lembrar que, mesmo sem legitimidade democrática substantiva, este novo governo socialista tem, formalmente, legitimidade institucional, pelo que devemos respeitá-lo. Não é por não ser um governo formado na sequência de umas eleições; não é por ser suportado por partidos extremistas que apoiam as mais sanguinárias ditaduras do planeta; não é por incluir dois dos três ministros do núcleo duro de José Sócrates que levaram o país à bancarrota; não é por ser o segundo maior governo em número de elementos da história da nossa democracia (tantos eram os boys a necessitarem de jobs); não é, enfim, por dele fazer parte um dos advogados de José Sócrates, o mesmo que redigiu a providência cautelar que proibiu o Correio da Manhã de continuar a dar notícias sobre o seu processo de corrupção, e logo como o membro do governo responsável pela área da Comunicação Social; não é, ainda assim, por tudo isto que se lhes poderia agora chamar de terroristas.
Jorge Varela
jorge.varela@ipleiria.pt