Parlamento sensível!

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Gazeta das Caldas
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Neste 15 de Maio, aniversário da cidade, o terreno em que o Teatro da Rainha, e a cidade, vão ter Casa Nova, foi objecto de uma visita explicativa por parte de uma delegação da Câmara na presença de elementos do TR e do Arquitecto Nuno Lopes, autor do projecto. Neste contexto e depois das explicações dadas pelo Presidente da Câmara relativamente às finalidades da construção, centradas nas potencialidades que a nova arquitectura traz à cidade, tanto no plano da criação teatral, quanto nas dimensões educativas dessa arte – o TR será também uma escola, em articulação com a ETEO, tendo portanto a responsabilidade de ministrar um conjunto de matérias específicas, desde as dramatúrgicas à interpretação, passando pelas técnicas vocais e corporais e pelas histórias do teatro, da encenação, etc., interveio o autor da obra. Nuno Lopes teve a oportunidade de explicar que o edifício cumpre na cidade vários propósitos, o primeiro dos quais relativo à centralidade nova criada no todo da malha urbana, dizendo que o “cubo suspenso” e os edifícios parceiros – o teatro de ar livre e a sala de ensaios, separada do corpo principal – criam, de facto, uma nova praça ao fechá-la, ao fundo, assim como estabelece uma relação com a “cidade” que em cima está um pouco isolada, ao inventar um acesso – uma escada entre as duas cotas – ao mesmo tempo que uma entrada de serviço no teatro que se faz pelo alto, pelo nível da teia. Da rua de cima acede-se à zona de serviços administrativos do novo edifício.
Explicando que os teatros eram nos séculos XIX e XX, na primeira metade – centros de cidade e que essa centralidade se prendia com a ideia republicana de juntar instrução e recreio, e que agora esses mesmo centros eram ocupados por “templos comerciais” – quantos teatros não foram abaixo e quantos não foram transformados – o que nas Caldas agora vai surgir é, pela via do novo edifício e do fechar da Praça, a criação de um Novo Centro, de um atracção nova. Essa característica passa também, necessariamente, pela transformação do parque de estacionamento na Praça – e isto, sem grande perda de lugares de estacionamento. Para além dessa dimensão Nuno Lopes referiu-se à peça como uma escultura urbana, afirmando que as suas linhas construtivas depuradas e de um geometrismo afirmado – a peça que se salienta é o “cubo”- na verdade paralelepípedo, em quilha para a praça, como se a quilha pudesse rodar e convidasse a um movimento giratório, como de uma porta que lança o olhar do olhante para o cimo – com tudo o que se lhe possa associar, com a particularidade de aparecer suspenso, não se vendo a base, o que é em si um modo de ficção, de sugestão narrativa. Por outro lado, Nuno Lopes sinalizou que o teatro de ar livre e a sala de ensaios que completam o complexo funcionam num diálogo constante com quem passa, com quem vem, já que a sala de ensaios é transparente – à noite é um candeeiro gigante, iluminada por dentro -, faz-se ver e o teatro de ar livre um lugar de acesso livre para quem queira passar um tempo, independentemente de acontecer teatro, uma espécie de bancada à espera das sombras de novas árvores na encosta.
Resta-me dizer que a Nova Casa será uma casa do exercício do teatro que, como sabemos, é um outro da democracia e nesse sentido uma casa da democracia. A assembleia de espectadores é, por via da dimensão crítica e sensível das práticas da cena, um parlamento sensível.

Fernando Mora Ramos
fernando.mora.ramos@gmail.com

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