A antologia da poesia de Levi Condinho (n.1941) organizada por António Cabrita e Miguel Martins tem 98 páginas e integra poemas de cinco livros publicados entre 1966 e 2001 e dos 48 poemas divulgados no Jornal «A voz de Alcobaça» entre 1993 e 1997 por José Alberto Vasco. A opinião de Herberto Helder («o seu livro é intenso e livre – qualidades que considero as melhores num ser humano e, particularmente, num poeta») sobre «Para que alguns me possam amar» (1977) pode aplicar-se a toda a obra deste poeta nascido no Bárrio (Alcobaça), facto inscrito num poema: «No princípio de Julho de 1950 foi a Missa Nova / do Padre João de Sousa – missa campal / camponeses ajoelhados no feno seco terra batida / alecrim incenso bandeirinhas de papel searas vinhas / o mar e o Sítio da Nazaré ao longe – à tarde toquei pífaro diante do microfone.»
Veja-se o poema de abertura: «escrevo estas coisas /para que alguns me possam amar / todos aqueles que sejam humildes / e vistam roupas simples e claras /manchadas mesmo de vinho café ou /nódoas de peixe frito /escrevo estas coisas /para quem nunca teve casa junto ao mar /mas sabe que o mar é uma delícia /como o sol.» A música está sempre presente como no poema da página 27: «Se perguntarem por mim /diz-lhes que me procurem /nas cordas de qualquer violoncelo /ou então nas chaves de um oboé /diz-lhes mais / que se enganaram a meu respeito /e não pensem que lhes farei a vontade /porque a minha vida foi música desde o ventre materno».
O ponto de partida pode ser o poema da página 37 («Juro uma vingança grave sobre / toda esta falta de viver») e o ponto de chegada pode ser a página 27: «se perguntarem por mim /diz-lhes que havia um barco à minha espera /e que finalmente resolvi entrar nele /sem lágrimas». No meio o poeta tem uma procura que não termina («Busco o teu perfil nos torvelinhos de uma cidade frenética») mesmo quando parece: «vamos procurar as árvores dessas ruas e escrever nelas o nosso encantamento / para que o mundo saiba que a redenção dos astros / passou pelos nossos lábios numa noite em que assaltámos /as portas de Deus.»
(Editora: Abysmo, Prefácio: António Cabrita, Capa: Luísa Barreto)