Guilherme José
Livreiro “Malfeitor”
Assistimos neste momento à tão famosa propaganda política que tem animado ultimamente os corpos sociais. Além disso, aproximamo-nos da reta final, estágio em que, por norma, surgem as últimas persuasões perante as massas numa tentativa quase semelhante a um vale tudo. Nesta altura, o terreno já se encontra pronto e cuidado para a verdadeira agitação que se avizinha até ao dia 10; as emoções já foram cultivadas e suficientemente exploradas através da publicidade oficial de cada partido político, desta vez a solidariedade alastrou-se também para os programas da manhã, nos quais todos os candidatos passaram erguendo a bandeira do personalismo e do humanismo (ambas instâncias ostensivas à nossa inteligência coletiva, tão pouco orgânicas que se transpareceram). Mas agora é hora de entrar na verdadeira luta, na qual as formas mais rudes de persuasão são assumidas.
Vimos algumas trocas de galhardetes até então mais ou menos saudáveis, isto é, ‘saudáveis’ na medida em que já se adivinhavam devido à nossa experiência como espetadores de debates políticos. Mas nestes últimos dias de campanha eleitoral, juntamente com o dia de reflexão e os dias seguintes às eleições, será um tudo por tudo a favor da adesão do público aos valores coletivos de cada partido. Parece-me a mim que desta vez o cenário não só vai assumir contornos semelhantes a um conto de Kafka, mas também o absurdismo político se vai alastrar até à extensão territorial onde circulam os organismos privados e públicos, despoletando um conflito entre ideologias políticas e burocráticas.
Este fenómeno disseminado, mas socialmente desconsiderado, de importarmos técnicas estrangeiras de propaganda política deve servir como oráculo para antevermos o cenário que se aproxima. É que as formas moderadas de se exercer a política já se romperam novamente e, a meu ver, não foi pelos melhores motivos, pois permanecemos na alienação. O que esse rompimento indica é que parte deste acontecimento tem origem numa relação cada vez mais deteriorada entre os cidadãos e as formas governativas, e isso deve-se ao facto de não se estarem a cumprir com os pressupostos intelectuais mínimos para se fazer política adequadamente. No entanto, como mencionado, a alienação mantém-se, na medida em que nós, cidadãos enquanto corpo social, seremos ainda o palco para as últimas cartadas políticas que pretendem abalar o nosso sistema de crenças ■