Rainha em calda

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Gazeta das Caldas
Maria João Melo
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Mensagem na garrafa

Transcrevo a mensagem numa garrafa que resgatei a alguém inspirado pela banda The Police:

Eu lançarei um SOS ao mundo,
Eu lançarei um SOS ao mundo,
Eu espero que alguém receba a minha,
Mensagem na garrafa,

porque na atualidade se tornou a única maneira fiável de vos fazer chegar esta missiva, sem incorrer em extravios e atrasos por falta de pessoal ou encerramento de alguma estação do serviço público postal.
Se a institucional e consagrada marca gráfica do cavaleiro montado no cavalo, arauto da chegada do correio por toque da trombeta, percorreu desde o século XVI o caminho do reconhecimento no território nacional, já os custos do processo de restyling que a imagem corporativa CTT sofreu em 2015, senti como mau augúrio. A perda da capa e da carta durante cinco séculos transportadas, danificou a longevidade histórica inerente à aura de confiança conquistada, e o emagrecimento da sua montaria conduziu ao desequilíbrio da figura que ficou prestes a estatelar-se no chão, já no próximo giro.
Como a emanação dos sinais de fumo do descontentamento se têm mostrado infrutíferos, assim como, as reclamações por escrito, os abaixo assinados, os protestos das populações e dos deputados, venho apelar-vos a adotar uma ação punitiva através do boicote, a estratégia heróica contra as empresas antiéticas cujo objetivo é a sua descapitalização, por abuso na conceção.
Quando a via do “não lucro” se torna na única linguagem ameaçadora que o mundo das transações conhece, proponho-vos empreender uma ação excecional, de contribuição individual, familiar e regional para um país mais solidário, através do consequente “não consumo”. Assim, se houver diminuição, ou até mesmo interrupção, do fluxo daquilo que lhes é mais sensível, o lucrar dinheiro, interfere-se efetivamente na distribuição de dividendos, cuja bizarria é o valor ser ostensivamente superior aos proveitos provenientes da faturação.
Já que no ato de tomada de decisão, ao aderirem aos produtos e serviços de determinadas empresas, a maioria dos consumidores prefere manter-se voluntariamente na ignorância, não tomando em consideração as suas práticas éticas, chegou o momento da atitude de mitigação. Através de um outro comportamento, o alternativo da manifestação de desagrado e da indignação, sancionar os injustificados produtos financeiros do Banco CTT, exorto-vos a transferir os vossos investimentos para uma outra instituição bancária e cessando a procura!
Os que não sendo clientes da instituição financeira CTT, mas estejam cientes da sua má índole empresarial, poderão aproveitar a aproximação do dia dos namorados para desatar a enviar cartas de amor, postais e presentes, aos magotes numa outra ação solidária, a de esbanjamento literária de afetos, reforçando a ideia que os portugueses são um povo de poetas, uns pinga-amor, que conseguem colocar à prova a qualidade de qualquer serviço postal.
Selemos então um comportamento de indignação através do consumo ético solidário, consciente do impacto social de suas opções, cujo potencial encerra a promessa em adquirir e ampliar progressivamente o poder popular que, enquanto consumidores individuais, integrados numa ação de grupo de pressão pode obter, protagonizando a luta coletiva pela justiça.
E não se deixem ludibriar pelas pantominas da inovação CTT como as que vos são apresentadas na Taça da Liga, para enganar o Zé Povinho.
E como estou em maré de fazer alusão a letras de canções, como na dos Deolinda, vou cantarolando: Dois selos e um carimbo bem assentes no focinho!

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Atentamente, Mui nobre L.

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