Foram iniciadas em Setembro de 2011 as obras de Regeneração Urbana de Caldas da Rainha, tendo começado pelo Largo João de Deus. Perante o projecto inicial, rejeitado pelos moradores, decidiram estes organizar-se numa Comissão, para melhor defenderem a sua visão sobre o que deveria ser este espaço urbano que encerra uma carga histórica única na cidade.
Hoje, com a obra praticamente concluída, creio podermos afirmar que integra a generalidade das alterações que os moradores propuseram, faltando somente algumas correcções que nos garantiram serão efectuadas. Não foi um processo pacífico, houve picos de tensão, mas sempre prevaleceu o princípio do diálogo entre as partes envolvidas (Câmara e habitantes). Não é uma obra perfeita, mas não desmerece. Houve que vencer resistências, nomeadamente de serviços camarários que pareciam querer que corresse mal, chegando ao ponto de haver responsáveis técnicos a afirmar que o dono da obra era a Câmara, e que os moradores só tinham que aceitar o que lhes era imposto. Aqui, no Largo João de Deus, com a força e legitimidade que os residentes sempre mantiveram através da Comissão de Moradores, e com o repúdio daquelas atitudes por parte do Vereador responsável pela obra, essas tentativas de prepotência foram derrotadas.
Finda esta fase, teve início a obra do Largo do Hospital Termal, e aqui, aparentemente, consenso e bom senso primam pela ausência. Ao que se sabe, ao CHON foi apresentado o projecto, e não houve oposição à obra até esta começar. No mínimo, é estranho que só nesta altura ela tenha surgido…
Um facto me parece evidente: as tentativas de subversão do processo das obras do Largo João de Deus, e o que está a ser feito em relação às do Largo do Termal, não auguram nada de bom para as fases seguintes da obra.
Numa leitura distanciada e isenta, parece que se está a aproximar a tempestade perfeita, em que confluem interesses partidários contraditórios do PS e do PSD, guerras pré-eleitorais do PSD, resistências por parte de serviços camarários, interesses obscuros do CHON de mistura com a sua eterna guerra com Câmara.
Infelizmente, este é o retrato do País. Não interessa fazer, prevalece a baixa política, o que importa é obstruir ou denegrir, desde que se consigam atingir os objectivos pretendidos. Esta é a imagem que o Parlamento nos oferece, esta é a imagem que o poder autárquico nos apresenta, esta é a imagem de entidades que se deviam reger por elevados princípios éticos e morais.
Todos somos culpados: os políticos, porque seguem políticas de interesses partidários, nós, os cidadãos, porque o permitimos.
É por tudo isto que considero exemplar o exercício de cidadania que foi feito no Largo João de Deus. Construíram-se consensos, em torno do máximo denominador comum, e continuar-se-ão a construir, sempre que necessário. E a resposta existiu, prova de que os políticos também podem e sabem responder à vontade dos cidadãos, quando expressa no quadro da democracia.
Um aparte final:
A atitude do Hospital Termal, ou do CHON, na pessoa da sua Administração, não é de admirar. Com efeito, se Administração desligada da cidade houve até hoje, é esta. Se a anterior foi de uma inépcia gritante, esta é arrogante e prepotente no seu alheamento em relação à cidade de que o Hospital Termal é o ícone. As manifestações da existência da Administração, e do futuro que pretende para este Hospital, têm incidido no progressivo esvaziamento dos seus recursos humanos. Esta será a melhor forma de destruir por dentro uma instituição, para melhor chegar ao argumento final da sua inviabilidade económica. Tal como a Linha do Oeste… Aparentemente, estes gestores vão sendo nomeados como liquidatários e não como defensores dos interesses das instituições. Haja quem se preste ao papel… Saúdo aqui a coragem dos Drs. Varandas, Mário Gonçalves e Vasco Trancoso, ao apresentarem propostas concretas e sustentadas, em coerência com o que foram as suas Administrações, por oposição à ausência de estratégia e objectivos da actual.
Fernando Sousa