Resistência (1)

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Jorge Sobral
jurista

São tantos os caldenses que se ofereceram à luta contra a ditadura e que contribuíram para que hoje possamos viver em democracia, que julgo ser esta a altura para os lembrar.
Passados que são cerca de cinquenta anos do 25 de Abril, vem-nos há memória os muitos (homens e mulheres) que infelizmente já partiram, mas outros ainda estão no nosso convívio.
Os caldenses, detidos pelas forças repressivas no concelho, cumpriram pena, no Aljube, Caxias e no Forte de Peniche.
No entanto, outra forma de travar a atividade política, era enviar alguns dos oposicionistas para locais, longe dos familiares, quer para as ex-colónias, quer no continente, com residência fixa.
Muitos outros, foram obrigados a passar a fronteira a salto, fugindo à perseguição e prisão.
Seria redutor se nos cingíssemos apenas aqueles que sofreram com o isolamento prisional. Muitos através da sua ação cívica junto das associações culturais, desportivas, sindicais e empresariais, tudo fizeram para que a população compreendesse a necessidade de lutar contra o regime opressor.
Nas empresas, nas escolas, no apoio a clandestinos, assim como na organização de férias a filhos e filhas de presos, marcavam com veemência a contestação ao regime repressivo.
Os almoços comemorativos do 31 de Janeiro e do 5 de Outubro, foram espaço de denúncia e de incentivo para a luta, assim como as reuniões preparatórias para as eleições nos “Armazéns dos Freitas”, realizadas clandestinamente, mas muitas vezes vigiadas.
A casa de muitos transformava-se em locais de encontro, onde se podia, com alguma cautela, falando baixo, conversar e ouvir os discos proibidos.
Por informação escrita que me foi deixada pelo Manuel Duarte, grande lutador antifascista, o relato da Prisão nos anos trinta do caldense Abílio (encadernador).
Este com o contributo de António Monteiro (tipógrafo), na celebre tipografia José Dias, foram os grandes responsáveis, pela mobilização de parte da juventude caldense naquela época (muita dela embevecida pela eloquência dos Anarquistas).
O caldense Abílio (encadernador), foi preso e tratado de forma tão desumana, que acabou por falecer no hospital do Desterro.
Numa próxima crónica, trarei à lembrança de todos, os nomes dos caldenses que em 1951 no Tribunal Plenário em Lisboa, foram condenados, numa grande operação levada a cabo pela PIDE.
Lembrarei, também, o nome dos Advogados que corajosamente os defenderam.
Deixo o apelo a quem tiver informações, notas escritas ou fotografias que gostassem de as ver refletidas nestas crónicas, que as façam chegar à redação do jornal. ■

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