Resistência (7) – A Fortaleza

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Jorge Sobral
Jurista

Precisamente quando se comemoram os 50 anos do 25 de Abril, no dia 27 do mesmo mês, comemorou-se também os 50 anos da libertação dos presos políticos. Escolher esta data para a inauguração do Museu da Resistência e da Liberdade, em Peniche, é uma homenagem a todos os que sofreram com o sistema prisional da ditadura assim como às suas famílias.
Aquele monumento militar recebeu ao longo dos séculos várias intervenções, tendo ficado as obras concluídas, nomeadamente do Baluarte no século XVII. É no início do Século XX, que o Forte deixa de ter a função militar. Entretanto passam ainda pelo Forte algumas dezenas de Boers, refugiados da Guerra travada com os ingleses na África do Sul.
É já no regime de Salazar que em 1932, se inicia a ocupação do Forte como prisão para presos políticos. Desde essa data e durante 42 anos, naquela fortaleza passaram muitas centenas de homens, que se preocuparam com a vida de todos, fossem operários, agricultores, empresários, professores, intelectuais, sindicalistas, estudantes e empregados.
Ali lutaram, sem nunca deixar de pensar nas suas famílias, ajudando-se uns aos outros, quer na melhoria da instrução de cada um, quer no apoio psicológico aos que recebiam notícias de casa mais temerosas.
Terminar as minhas crónicas, escrevendo sobre a inauguração deste Museu, que marca um momento negro da nossa história contemporânea, mas que vai ficar para nos lembrar que as liberdades de opinião, de reunião e de expressão, nunca estão garantidas.
Peniche e as suas gentes podem orgulhar-se de não terem permitido que a história fosse apagada.
Peniche não é a terra que teve uma prisão de presos políticos, é antes a terra onde muitos democratas e amantes da liberdade mesmo presos lutaram por todos.
Os democratas de Peniche, sempre souberam dar apoio às famílias dos presos, calar quando as fugas e foram algumas, por eles foram presenciadas.
Os Cidadãos de Peniche, sempre mostraram o seu desconforto com os pides que por ali abundavam. Por isso mesmo vários foram os Penichenses, que sofreram com a clausura no Forte.
Limitei-me a escrever histórias de vida de muitos que conheci, com quem conspirei durante a ditadura, por quem tive sempre um profundo reconhecimento pela sua coragem e determinação.
Agradeço aos responsáveis Editoriais da Gazeta o convite que me foi formalizado para poder escrever sobre tantos caldenses que sofreram com a perseguição e prisão
Ao terminar esta minha participação, resta desejar ao Jornal e a todos os seus colaboradores, o melhor que a vida possa dar. ■

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