Resistência: Filhos da Madrugada

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Jorge Sobral
jurista

Das madrugadas de vigília, de sobressalto, de medo e revolta.
As crianças, filhas e filhos dos opositores ao regime de Salazar, muitos estavam cientes das dificuldades que temiam vir a passar, pela constante possibilidade de ver os seus progenitores incomodados. A Pide, normalmente caçava pela calada da noite, quando as famílias em descanso vigilante, esperavam que a noite passasse, pois amanhã seria outro dia.
Muitas destas crianças, acabavam nas casas dos Avós, ou só com as mães ou apenas o Pai.
Uma nova situação se apresentava aos mais velhos, conhecedores das razões que assistia aos seus Pais, recebiam muitas das vezes o apoio silencioso dos seus pares.
Na escola, muitos dos professores sabendo a realidade, tomavam medidas de solidariedade para com esses alunos.
Filhos de operários, de trabalhadores agrícolas de mineiros, de professores, de médicos, de empresários, sofreram com a ausência dos seus Pais.
Naturalmente mais dura essa realidade quando se aproximavam datas de aniversário, do Natal, da Páscoa, e tantas outras importantes no seio familiar.
Muitas destas crianças não tinham nunca pensado em passar férias, tal eram as dificuldades económicas.
Muitos destes jovens, filhos de famílias do interior do país, nunca tinham tido a possibilidade de ver o mar.
Ao longo desta história de perseguição, houve sempre homens e mulheres que se destacaram no apoio aos Presos e às suas famílias, marcando sempre presença, quer através do “Socorro Vermelho”, quer em iniciativas de grupo, como a que se constituiu nas Caldas da Rainha, onde um punhados de homens, mulheres e jovens opositores ao regime ditatorial, organizaram colónias de férias para que essas crianças tivessem a possibilidade de viver alguns momentos de felicidade.
A importância de se saber que não se está sozinho. Que o sacrifício dos seus em prol de todos não era esquecido.
Um dos jovens que participou ativamente nas colónias de férias em Caldas, António João M. Freitas, conheceu essa dor quando da prisão do seu Pai, o saudoso médico Custódio M. Freitas.
Por gentileza sua, reproduzimos o Poema que escreveu ao seu Pai quando este estava encarcerado.

“Pioneiro da dignidade;
Que és herói na solidão;
porque ousas maioridade
dão-te em troca: a prisão…
Mas não há grilhões, nem grades
Que calem a voz da razão
porque a força das verdades
esmaga sempre a opressão
Dormes só, na tua cela;
Teu travesseiro é a esperança;
De veres da sua janela
horizontes de mudança…
de mudança, pioneiro
do sonho em realidade;
p!ra que tu e o mundo inteiro:
Pensem, falem…Liberdade! ■