Várias notas
Foi em 1996 que se realizou pela primeira vez a Semana Internacional de Piano de Óbidos, a SIPO. Ano após ano este evento tem-se afirmado no panorama nacional e internacional, na sua dupla dimensão: a da formação musical, através de reputadas masterclasses – cursos de aperfeiçoamento e a do festival de piano, que apresenta sempre intérpretes de enorme qualidade e uma programação fantástica.
Este ano a SIPO alargou os recitais à região, com espetáculos em Caldas da Rainha, Bombarral e Santarém. Um exemplo do que deve ser a cooperação entre municípios no que toca à atividade cultural. Exemplo também é a diversidade de apoios públicos e privados, com o apoio inestimável da Antena 2, que convergem tornando possível a Semana.
Escrevo após o concerto de Artur Pizarro, no passado domingo. Sublime. Todas as palavras serão poucas e curtas para contar o que se viveu na Casa da Música. Muito obrigada, Manuela Gouveia, muito obrigada à Associação de Cursos Internacionais de Música e a toda a organização da SIPO por tudo o que têm trazido a Óbidos, à nossa região, ao país. Uma palavra de apreço ao município que soube, desde o primeiro momento, já há mais de vinte anos e até hoje, acolher e apoiar a iniciativa. E um muitíssimo obrigada pelo momento mágico do passado domingo.
O programa segue até sábado, dia 11, há que aproveitar!
A não perder nas Caldas, duas exposições de artes plásticas. No Museu da Cerâmica, só até 26 de agosto, temos uma mostra antológica do trabalho de Armando Correia, Ecos de uma paisagem, organizada pelo Grupo de Amigos do Museu de Cerâmica (GAMC) e pelo Museu da Cerâmica. Sugiro vivamente uma visita atenta a esta mostra, que nos traz a vida e obra do Armando.
Autor multifacetado, sobretudo conhecido pela sua obra cerâmica, participou na primeira BIO – Bienal Internacional de Óbidos, dedicada à Cerâmica Criativa Contemporânea, em 1987, ocasião em que o conheci pessoalmente. De trato reservado, escondia nos seus gestos contidos uma enorme delicadeza e sensibilidade, que emergem em todos os seus trabalhos.
Fundamental e imperdível a exposição de José Aurélio, O homem pensa porque tem mãos, no Museu Leopoldo de Almeida, que estará patente até 18 de setembro.
Tive a sorte de crescer em Óbidos quando o José Aurélio era um dos, então ainda muitos, habitantes da Vila. A galeria Ogiva, cuja importância no panorama artístico nacional percebi muito mais tarde, fazia parte do nosso quotidiano de crianças. Aliás, como as casas em que habitou e interveio, com imensa criatividade, sem tentações de cair no bonitinho revivalista de um passado que se foi inventando e (re)criando em Óbidos, nas décadas anteriores. Para mim e para os obidenses da minha geração, o Zé Aurélio era um de nós, apenas mais velho, e sábio, e é essa a argamassa de que é feita uma amizade de décadas. Aqui fica a minha declaração de interesses.
Sou, pois, assumidamente suspeita ao falar do artista e da exposição. Belíssima. Peças fantásticas. Uma curadoria de Nuno Faria notável, que permite uma leitura clara dos trabalhos, mas que nos deixa a pensar em cada um deles e no seu conjunto, na forma como entre si dialogam e nos interpelam. No catálogo, o curador assina um texto muito interessante sobre a motivação que esteve na base da conceção desta exposição. Na abertura do mesmo catálogo, o Presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Fernando Tinta Ferreira, expressa um sentido reconhecimento ao autor, mas também ao curador e à equipa do Centro de Artes liderada por José Antunes. Associo-me a estas palavras, com um enorme obrigada por esta exposição, e convido todos a visitá-la. Vale a pena!
Cristina Rodrigues
gouvarinho@hotmail.com