O grito mudo da lâmina a marcar os corpos, entre os adolescentes, tem crescido nos últimos anos. Corpos tapados o ano inteiro onde, sem querer, vemos cicatrizes nos braços, pernas ou barriga.
O cutting é um comportamento de agressão intencional ao próprio corpo, normalmente sem intenção suicida. Todo o adolescente sabe explicar a teoria que leva ao ato… cortamos, queimamos, batemos ou autolesamo-nos para conseguir suportar a dor emocional. Realmente, isto é o que está descrito nos livros, mas a automutilação a que assistimos é muito mais do que o que está escrito nos livros.
A disseminação da prática da automutilação nas redes sociais tem um papel preponderante sobre o problema e tem servido de combustível. Os primeiros casos tornaram-se tema de conversa quando a cantora Demi Lovato assumiu o comportamento. E é excelente que se fale para não ser tabu e, mais facilmente, quem dele padece, ter capacidade de pedir ajuda. Mas passámos para o extremo, onde o comportamento passou a ser uma prática para quando estamos tristes e queremos que essa tristeza passe rapidamente, porque a prática já resultou com alguém.
Quando se dão conta da problemática, é normal que os pais se perguntem onde é que erraram, mas nem tudo o que se passa com os filhos é culpa dos pais. O problema atinge todas as classes sociais e géneros, mas a faixa etária de maior risco é a adolescência. E na adolescência é normal uma procura de respostas fora do núcleo familiar.
Na maioria dos casos, a automutilação é reflexo de uma incapacidade de lidar com sentimentos, como angústias, medos, tristeza e conflitos, onde o comportamento lesivo pode cumprir várias funções, entre elas experimentar sensações intensas, minimizar emoções negativas, autopunição, pensamentos de culpa, pedir ajuda e/ou comunicar desconforto psicológico. Os adolescentes veem nesta prática a saída mais rápida para aliviar o sofrimento que podem estar a sentir e não é necessário existir uma perturbação psicológica, mas, geralmente, há uma tristeza envolvida, um não conseguir antever solução.
Será bom que qualquer um de nós possa estar alerta para certos sinais como tristeza, afastamento social e cobrir o corpo mesmo quando está calor, puxando constantemente a roupa por forma a tapar alguma área do corpo.
Como ajudar? Não julgando. Ter uma conversa franca e será benéfico pedir ajuda especializada, para que a pessoa possa aprender formas saudáveis e adequadas de lidar e expressar os pensamentos e sentimentos difíceis, pois as marcas deixadas, podem estar além das cicatrizes físicas.