DE LUPA NA MÃO

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Hoje vamos relembrar um eminente artista de uma conceituada família caldense. Para isso servimo-nos de um Álbum de Homenagem, dirigido por João Fragoso, publicado em 1943, e no qual participaram ilustres personagens da época, como por exemplo: o Cardeal Patriarca, Afonso Lopes Vieira, Alfredo Pinto (Sacavém), António Botto, António Duarte, António Montês, Branca de Gonta Colaço, Braz Burity, Eduardo Schwalbach, Fernanda de Castro João Pereira Rosa, num total de 65 abalizadas e sentidas opiniões.
Damos a palavra a Fernando Correia: “Francisco Elias dos Santos, filho de Elias dos Santos e de Maria José Moreira Branco, nasceu nas Caldas da Rainha em 21 de Setembro de 1869.
Nascido de condição humilde (diz ele numa nota que deixou), tendo cinco irmãos, dois dos quais, Herculano e António, se dedicaram também à cerâmica, Francisco Elias tinha um tio materno, José Moreira Branco, empregado na Fábrica de Faianças de Rafael Bordalo, como fiscal. Devido à interferência desse tio é que iniciou a sua carreira artística, aos 16 anos, como aprendiz, debaixo da vigilância do “Mestre”. […] Foi em 1886 que Elias iniciou a sua carreira como aprendiz da fábrica de Rafael Bordalo. Depois de trabalhar de graça durante dois meses, começou a ganhar quatro vinténs por dia.
O seu primeiro mestre foi o operário Feliz, passando, pouco tempo depois, a trabalhar debaixo da direção de Mestre Bordalo.
Durante quase vinte anos acompanhou os trabalhos deste, «executando as suas ordens, modelando pelos seus desenhos, sempre sob a sua vista» – como ele dizia.
Colaborou na execução da Jarra Beethoven; decorou sozinho, uma redução desta obra, que pertenceu à casa Relvas; trabalhou numa Jarra Luis XV, para o Conselheiro João Franco e num Perfumador, para o Conselheiro Júlio de Vilhena, auxiliado pelo seu companheiro Avelino Belo. […]
Entretanto continuava a trabalhar debaixo das ordens de Rafael Bordalo, colaborando em muitas das suas obras. Depois da morte dele, em 23 de Janeiro de 1905, acompanhou o seu filho Manuel Gustavo na fábrica, durante 12 anos, modelando muitos trabalhos, entre outros, a Jarra Brasil.
Em vida de Rafael Bordalo fez, além de algumas representando tipos populares, a miniatura das capelas do Bussaco, que o Mestre apreciou muito, incitando-o a continuar aquele gênero de trabalho.
Resolvendo dedicar-se exclusivamente à modelação de miniaturas, deixou em 1918, a fábrica de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, influindo muito nessa resolução a doença de sua esposa. Instalado numa casa da Rua Sangreman Henriques, iniciou assim nesse ano um labor intenso no atelier minúsculo em que transformou um dos quartos da sua habitação.”
Com pena despedimo-nos de Francisco Elias, pois o espaço para a minha crónica sobre motivos e personagens caldenses está preenchido. Para a semana voltamos.