Rui Zink (n.1961) assina este livro insólito de 133 páginas sobre um homem que interroga outro numa base secreta.
A origem desta história é a vida actual segundo a advertência de Oscar Wilde: «A vida é uma coisa demasiado importante para ser levada a sério». Ou dito porRui Zink: «É essa a desgraça do nosso tempo. Todos querem ser engraçados».
Acusado de «tentar pôr uma bomba», o interrogado admite logo no princípio do diálogo quando responde «Fui sim senhor. Como não havia de admitir? Há testemunhas…» A origem do título do livro está num passo do diálogo a propósito da palavra castelhana «oso» que se pronuncia «osso» e significa «urso»: «Osso quer dizer urso? Isso mesmo. Eles escrevem só com um s mas pronunciam com dois ss. E é um anagrama perfeito. Ou, melhor, um palíndromo.»
Rui Zink sabe (como Santos Fernando) que «o humor é uma lágrima entre parêntesis». Entre equívocos e sorrisos, até a ligação à história da literatura («O Conde de Montecristo») é feita a sorrir: «Sabe que o Abade Faria existiu mesmo? Era um padre português de Goa, até parece que têm lá uma estátua? O primeiro homem a fazer uma hipnose pública, um dos pioneiros da hipnoterapia.»
O ponto de chegada deste humor no fim do livro é a moral de história, vale a pena citar: «Um terrorista entra num bar com uma bomba na mão. O dono do bar avisa que tem de deixar a bomba lá fora. O terrorista diz-lhe: estava a brincar, eu não sou terrorista, olhe só, isto não é uma bomba, é um isqueiro. E para mostrar que é verdade acende o isqueiro. O dono do bar replica, com ar triste: eu também estava a brincar, isto não é um bar, é um posto de gasolina».
(Editora: Teodolito, Ilustrações: Rui Zink, Editor: Carlos da Veiga Ferreira)