Temos assistido a um verdadeiro debate de surdos entre os que dizem que o Ensino Público apenas pode ser ministrado em escolas estatais e os que defendem que esse serviço público também pode ser prestado por escolas privadas. Os primeiros aplaudem a vontade do governo em rasgar os contratos de associação e os segundos repudiam tal decisão.
Quando a política começa a ser tratada de forma tão facciosa que mais parece uma discussão entre adeptos de clubes rivais sobre a marcação de um penálti, é chegada a hora de parar… contar até vinte… respirar fundo… e, então sim, analisar racionalmente a questão de fundo. Caso contrário, tudo isto passa a ser visto como um relato futebolístico:
Senhores ouvintes, estamos em direto das Caldas da Rainha onde vai começar um vibrante clássico entre o Colégio (Colégio Rainha D. Leonor) e a Técnica (Escola Secundária Bordalo Pinheiro). As equipas já estão perfiladas em campo e, enquanto se respeita um minuto de silêncio pelo rumo que a Educação está tomar no nosso país, vamos relembrar o percurso que cada equipa fez até este embate final.
A equipa do Colégio surgiu quando, há cerca de quinze anos, as escolas estatais das Caldas da Rainha não comportavam todos os alunos que aqui queriam estudar nos 2º e 3º ciclos do ensino básico. Era necessário uma escola nova e o governo socialista de então, não tendo dinheiro para construir uma escola nova e contratar funcionários e docentes para a colocar em funcionamento, preferiu celebrar um contrato de associação com uma entidade privada para construir a escola, contratar funcionários e professores e receber os alunos. Foi assim, senhores ouvintes, que em 2005 o Colégio começou a competir nesta modalidade. Rapidamente assentou o seu estilo de jogo e lá foi, de vitória em vitória, até à divisão cimeira das escolas. O impulso final foi dado pela decisão do governo de Passos Coelho que permitiu que os contratos de associação não estivessem dependentes de falta de vagas nas escolas estatais.
Do outro lado temos a Técnica. Lembremos os nossos ouvintes que este é um clube com mais tradição, que suportou até o complexo ideológico do pós 25 de abril, em que todos tinham de ser doutores e se tentou acabar com a formação técnica. Sendo um clube mais antigo, a Técnica estava mais envelhecida e começou a perder adeptos (alunos) para o Colégio. Numa tentativa de recuperar esses adeptos e subir uns lugares na tabela classificativa, a Técnica recebeu há poucos anos, da parte do governo liderado por José Sócrates, um investimento de milhões de euros. Ainda assim, continua com poucos adeptos e a lutar pela manutenção.
Acabou o minuto de silêncio e já rola a bola…
Se pararmos, contarmos até vinte, respirarmos fundo e analisarmos racionalmente a questão de fundo, vemos que, do ponto de vista ideológico, existe, como sempre existirá, um enorme fosso entre Passos Coelho e Mário Nogueira. A diferença é que o primeiro ganhou as eleições e o segundo foi imposto àquele que, tendo perdido as eleições, é hoje primeiro-ministro.
O que é realmente constrangedor em toda esta história é o total desprezo para com os alunos, famílias e professores das escolas com contratos de associação. A discussão pública está a passar ao lado do que verdadeiramente interessa. Tenho ouvido dizer que, se os pais querem manter os filhos nas escolas geridas por privados, então que paguem dos seus bolsos. Este argumento, para além de indiciar que algo é substancialmente melhor nessas escolas, levanta outro problema: é que os pais ricos podem continuar a pagar para lá manterem os seus filhos a estudar; os filhos dos mais pobres é que não vão poder lá continuar. Sendo a educação um elemento essencial para a igualdade de oportunidades, não deveríamos aceitar de forma tão branda este tipo de discriminação.
2-1 : Resultado Não Homologado
Meu caro dr Jorge Varela
Na qualidade de simpatizante, há mais de 48 anos, da Técnica, que terá certamente algumas dezenas de milhar de adeptos, confesso que não gostei mesmo nada do resultado futebolístico imaginário, desta sua crónica. Nela, numa jogada fortuita é sugerido, como certo, que a histórica e centenária Técnica é humilhada por outra novata recém-criada. No jogo, entretanto suspenso, é fácil prever a impossível homologação do resultado por ser mais que comprovado o recurso ao doping rankiano , à falta de fair-play financeiro e ainda a uma série de anomalias de que as comissões disciplinares têm vindo, até aqui, a fazer vista grossa. É bom ressaltar que este resultado imaginário, é conseguido possivelmente, numa competição a feijões, quando se sabe que a malta da Técnica tem, normalmente, muito que fazer.
Cada um procura valorizar-se da forma que mais lhe convém: seja pelo número de bilhetes, pelos amarelos a mais, pelo barulho das claques ou até pelos patrocinadores vistosos que tem. Mas, apesar disso pode acontecer, mesmo assim, uma possível descida de divisão
Ninguém gosta que maldigam o seu clube e por isso não parece boa ideia falar assim de quem está a fazer o seu trabalho, o melhor que pode, com as limitações próprias de ter que garantir as várias modalidades que promove , e enfim, cumprindo uma importantíssima tarefa de caracter social relevante, a que outros não são obrigados e se furtam
Será imaginável que um dia a velha e veneranda UC possa vir a ser ultrapassada nas preferências dos jovens pela novata UAL?
Luís Sá Lopes
Agradeço o comentário muito interessante do Dr. Sá Lopes. Convido todos os leitores da Gazeta das Caldas a verem os outros comentários no perfil de facebook de Luis Sá Lopes que confirmam o que tinha escrito na minha crónica: esta questão sobre as escolas com contratos de associação mais parece uma discussão entre adeptos de futebol.
Agradeço o comentário interessantíssimo do Dr. Sá Lopes. Convido todos os leitores da Gazeta das Caldas a lerem outros comentários na página de facebook de Luís Sá Lopes para confirmarem o que escrevi na minha crónica: esta questão das escolas com contratos de associação é discutida como se dum jogo de futebol se tratasse…