A caldense por adopção assume que gosta de estar “do lado esquerdo da vida” e prepara-se para voltar a sentar-se na bancada socialista na Assembleia da República
Natural do Crato (distrito de Portalegre), filha de um ferroviário, Sara Velez percorreu várias localidades do país durante a sua infância e juventude, até que veio para as Caldas no início da década de 90 do século passado. Foi na Escola Secundária Raul Proença, onde frequentava o ensino secundário, que se deu o seu primeiro ato político: a organização de uma manifestação na cidade com a Prova Geral de Acesso, a conhecida PGA. Nas Caldas, e à semelhança do que aconteceu em várias cidades do país, conseguiram mobilizar os estudantes das escolas secundárias Raul Proença e Rafael Bordalo Pinheiro, “numa grande manifestação, que acabou junto à Rainha e que juntou centenas de alunos”, recorda a então estudante do 11º ano e elemento da Associação de Estudantes.
“Encontrar soluções coletivas para problemas coletivos” foi sempre o objetivo que norteou Sara Velez. E, entre a atividade associativa, essencialmente estudantil, e a entrada na vida política foi um passo porque, entretanto, conheceu colegas de escola que eram da JS, foi a uma reunião e ficou. Tinha 18 anos. Mais tarde tornou-se militante do PS e começou a fazer parte dos grupos de trabalho.
A primeira campanha autárquica em que Sara Velez participou foi a de Vieira Pereira (já falecido) à Câmara das Caldas. “Nessa altura prendíamos os cartazes com uns pendões de plástico horrorosos, com um impacto ambiental brutal, vistos aos olhos de hoje. Andei pendurada em postes, candeeiros e árvores a pendurar faixas e pendões pela cidade fora”, recorda.
O seu primeiro cargo político foi na Assembleia Municipal caldense e tem participado em diversas listas aos órgãos autárquicos. Começou a exercer funções no Governo Civil de Leiria, como assessora de José Miguel Medeiros, que depois viria a ser secretário de Estado da Proteção Civil, levando-a com ele para o governo. Com a sua saída, Sara Velez permaneceu, com a sucessora da pasta, Dalila Araújo, a convidá-la a fazer parte do seu gabinete.
Em 2014 assumiu a presidência da concelhia caldense, com a saída de Luís Patacho. Por não querer ficar com a responsabilidade sem ter ido a votos pediu aos órgãos nacionais que fossem marcadas eleições, o que veio a acontecer, e ganhou. Nas autárquicas de 2017 foi eleita para a Assembleia Municipal, mandato que teve de suspender por motivos profissionais. Voltaria a ocupar o cargo em 2020.
Sara Velez é eleita deputada à Assembleia da República em 2019, pelo círculo eleitoral de Leiria, depois em 2022 e agora volta a ser candidata, ocupando o quinto lugar da lista. Reconhece que trabalhar no parlamento é uma exigência grande, a tempo inteiro. “É bastante intenso e interessante, mas mais lento do que aquilo que eu gosto. Sou muito pragmática e, às vezes, o tempo legislativo, que é o foco da Assembleia da República, é demasiadamente lento”, reconhece à Gazeta das Caldas.
Mas também é um trabalho de conquistas e a deputada caldense lembra o projeto-lei no qual se envolveu para que os tratamentos termais voltassem a ser comparticipados pelo SNS. “Era um grande objetivo, até pelo simbolismo para as Caldas”, salienta.
A maior aspiração é ser eleita e continuar o “trabalho de proximidade” que tem tido com este território. Integrar o próximo governo não é uma “aspiração direta, mas se isso acontecesse teria de pensar e, muito provavelmente, aceitar”.
Entre os objetivos para a próxima legislatura fala da construção o novo hospital do Oeste e na localização que defende, entre as Caldas e Óbidos, e que as Caldas possa ter uma melhor resposta hospitalar. Sara Velez defende também a salvaguarda do Vale Tifónico, que abrange os concelhos de Óbidos, Caldas e Alcobaça e realça a eletrificação da Linha do Oeste e ligação com a linha da alta velocidade, como uma mais valia para toda a região.
Lei da Paridade é um “mal necessário”
Sara Velez não tem sentido discriminação de género na política, no entanto, não deixa de lembrar que houve reuniões em que era a única mulher, e com funções de presidência, e que “às vezes tinha de me impor um pouco mais”. Destaca as medidas de discriminação positiva que têm sido tomadas, desde logo a implementação da Lei da Paridade, que vê como um “mal necessário”. Ainda assim não deixa de dar nota pública de que, quando são elaboradas as listas, as mulheres “não se colocam senão no lugar que lhe está reservado, que há-de ser o terceiro, o sexto ou nono…” ou seja, acabam por ser arrastadas para o fim da lista.
Um desses exemplos é a composição da Assembleia da República, que já foi mais feminina. Este número crescente de deputados está relacionado com a “pulverização” de partidos pequenos em que o cabeça de lista, que normalmente é homem, é o eleito.
Há depois questões que determinam a disponibilidade da mulher para participar na vida política e que estão relacionadas com os papéis sociais que lhe estão atribuídos. “Aí sim, acho que há muito trabalho a ser feito, nomeadamente na conciliação da vida familiar com a profissional ou política, dependendo do seu projeto de vida”, complementa.
Para Sara Velez, que é licenciada em Sociologia, a questão encontra-se neste momento ao nível do acesso, tendo em conta que os direitos está constitucionalmente garantido. ■