Zé Povinho, com a sua rusticidade provinciana, olha para o conterrâneo caldense, Miguel Oliveira, conhecido nos meios da música electrónica como Holly, com inveja e simultaneamente respeito.
Quanto adoraria, com apenas duas décadas de idade, já ter percorrido quase todo o planeta para actuar em espectáculos para os jovens da mesma geração dessas paragens!
Amanhã mesmo lá vai ele a caminho da Índia, para actuar para os jovens indianos, seguindo-se Nova Iorque e outras cidades. No entanto, o caldense Miguel Oliveira acaba sempre por regressar à sua terra natal, à qual reconhece o contributo que esta lhe deu para o seu percurso enquanto artista.
Com lançamentos musicais todos os meses, Holly parece ser assim um jovem hiperactivo, com forte pedalada e sempre na onda ou na nuvem, pertencendo simultaneamente à geração do skate.
Zé Povinho não disfarça a sua inveja saudável pelas suas viagens e por fazer o que gosta. E por isso mesmo saúda-o e dá-lhe força, até pela forma como se relaciona com o público e mesmo com quem o contrata, pois trata dos assuntos directamente sem ter de passar pelos detestáveis agentes que vivem, muitas vezes, exageradamente à custa dos artistas.
E deseja-lhe que não se inebrie com esta espécie de sucesso rápido e fácil, pois o mundo do espectáculo onde ele está a mergulhar por vezes é muito ingrato.
Caldas da Rainha criou um espaço cultural que ao longo da sua curta vida, além de alguns assinaláveis êxitos, não tem deixado de levantar algumas perplexidades face à sua fraca utilização para os meios disponíveis.
Provavelmente quem pensou naquele espaço, exagerou no público que o poderia frequentar, não teve em conta as dificuldades logísticas para incrementar a sua utilização como espaço de congressos nem a limitação de verbas para incrementar as suas actividades culturais.
Mesmo assim não têm vindo a público muitas insuficiências em relação ao seu funcionamento, apesar não haver muitos espectáculos que justifiquem a dimensão da obra realizada e o elevado investimento.
Mas surgiu agora um dos primeiros problemas com a realização falhada de uma exposição de um escultor caldense residente em Londres, cuja programação foi sucessivamente adiada e alterado o espaço escolhido.
O CCC justifica esses problemas com a falta de pessoal e de condições financeiras, bem como com a dificuldade em lidar com as exigências técnicas para a montagem da dita exposição.
Zé Povinho interroga-se se foi apenas falta de pessoal e de meios financeiros, ou se esta história não será a ponta de um iceberg maior que significa que a ideia precursora da construção de um Centro Cultural e de Congressos nas Caldas não passou de mais um truque eleitoral para eleitor ver e que a cidade não tem capacidade para alimentar uma infraestrutura com tanta dimensão.
O principal responsável pode ter sido quem fez o financiamento (autoridades portugueses que geriam os fundos europeus) ao impôr exigências técnicas e estruturais desmedidas para o objectivo pretendido sem cuidar da capacidade de absorção do meio e da existência de outros espaços que podiam ter sido valorizados e recuperados.
A ideia de que tem de ser feita sempre obra nova para encher o olho é errada e paga-se caro, quando concretamente nas Caldas aqueles 17 milhões de euros podiam ter sido utilizados para finalidades idênticas e recuperando património emblemático da cidade que continua em riscos de queda.
Certamente que a responsabilidade deve ser assacada às autoridades europeias bem como aos responsáveis locais. Infelizmente ninguém quer fazer esta reflexão, mas Zé Povinho corre esse risco.